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Dissonância Cognitiva e o Paradoxo Filosófico

A dissonância cognitiva ocorre quando mantemos dois conjuntos contraditórios de crenças ou valores em nossa mente ao mesmo tempo. Os filósofos em geral desfrutam desses conflitos da mente e podem dedicar a trazer sentido a estes paradoxos com grande interesse. Em nossa interação humana comum, a dissonância cognitiva é experimentada como algo desagradável e automaticamente tomamos ações para eliminar esse ruído em nossas consciências para que possamos experimentar congruência e harmonia dentro de nós mesmos.


Um dos enviesamentos cognitivos mais comuns é o viés de confirmação. O viés de confirmação se aprofunda em nosso senso de quem somos pelas nossas opiniões, valores e moral. O viés de confirmação acontece quando nossos desejos, gostos ou opiniões são confrontados com ideias conflitantes. Digamos que você seja uma pessoa que adora bacon. Qualquer informação ou pesquisa que revele que o bacon não seja saudável terá uma tendência natural de ser menosprezada, em relevância ou valor, enquanto que as pesquisas ou opiniões afirmando que a banha e a carne de porco são ótimas para a saúde são facilmente aceitas e usadas para fortalecer a crença e o desejo pré-estabelecidos. Para os fumantes, vemos o mesmo: o risco de doença é minimizado e o foco sempre está naqueles muitos exemplos de fumantes inveterados ​​que não sofreram com problemas respiratórios ou a morte prematura para invalidar as informações.


Essa avaliação seletiva de informação está cada vez pior, pois hoje estamos cercados por qualidades variadas de informações, com muitas delas falsas de várias formas. As informações não confiáveis ​​facilitarão automaticamente a dissonância gerada por informações contraditórias, afinal, quem pode ter certeza do que é confiável e verdadeiro quando as pesquisas são frequentemente bancadas com uma agenda específica em mente? Da mesma forma, as notícias podem ser influenciadas por uma inclinação política ou pessoal. É neste terreno fértil de informações contraditórias que teorias conspiratórias florescem com tanta força.


Formas extremas de viés de confirmação são bem demonstradas pelo nosso presidente quase que diariamente, mas nestes tempos de covid-19 vamos considerar apenas sua insistência de que a hidroxicloroquina seja a cura para aqueles que adoecem com o vírus. A esmagadora maioria das pesquisas e dos especialistas afirma que este não é um remédio muito eficaz; portanto, ele deliberadamente se livra das vozes opostas e dos especialistas que contradizem suas crenças e constantemente procura os poucos dados e as poucas pessoas que defendem seu uso no tratamento de covid-19. Quanto mais profunda a crença estiver implantada na pessoa, mais medidas drásticas podem ser tomadas para afirmar sua posição no registro de valores e ideias.


Similarmente, podemos observar em nós mesmos quando existem crenças importantes para sustentar todos os tipos de angústia e estresse quando essas ideias pré-concebidas são desafiadas e, pior ainda, quanto mais vemos nossas ideias pré-concebidas se enfraquecendo diante de novos argumentos, dados e perspectivas. Esta forma de enviesamento também está na raiz da criação dos paradigmas científicos, ou seja, ao estabelecer uma hipótese de validade. Às vezes, pode parecer que um paradigma seja verdadeiro por um longo tempo, como Newton e suas teorias da gravidade que começaram a enfraquecer apenas com a relatividade de Albert Einstein, que desafiou severamente nossas crenças pré-estabelecidas sobre a gravidade. Vemos nessa situação o quão difícil é esse viés, porque ainda existe uma parte da comunidade científica que se propõe a afirmar o paradigma newtoniano para diminuir o ruído apresentado pelas ideias de gravidade encontradas na teoria da relatividade. Como leigos no assunto, a melhor postura é a de ter uma mente aberta e fechar a boca para não comermos moscas.


O viés de confirmação é resolvido ao permitir que ideias conflitantes coexistam e tratar nossas ideias pré-concebidas como hipótese, permanecendo abertos à mudança de opinião. Pelo que vemos, onde duas ou mais pessoas estão reunidas com algumas divergências na mesa, há uma garantia de que esse viés ocorra, porque nossos desejos, opiniões e pontos de vista são frequentemente percebidos como partes vitais de quem somos e, portanto, capazes de abalar o núcleo das nossas crenças. Devemos suspeitar daqueles sentimentos extravagantes que surgem quando precisamos defender demais uma ideia. Especialmente quando elas nos trazem angústia e estresse.

A solução para isso é tomar consciência desse viés, perceber que o desconforto gerado no viés cognitivo é um paradoxo filosófico e que uma mudança de opinião costuma ser uma coisa boa. Procurar mais informações sobre os assuntos e ouvir diferentes pontos de vista são riquezas que podem abrir nossa paisagem mental e até tornar nosso núcleo pessoal ainda mais profundo e vibrante. É só aceitar com boa disposição este crescimento e transformação.

Arte por David Gough


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