top of page

“Dentro de mim, vejo”: Semióticas da Masculinidade Moderna

A masculinidade tóxica se refere a homens que usam violência, bullying, agressão e assédio como formas de se expressar. A masculinidade tóxica existe porque a cultura contém desculpas para tais comportamentos, como referir a essas formas de se expressão afirmando que “meninos serão meninos”, “ah, é a testosterona” e ideias semelhantes. Pessoalmente, diria que é mais significativo expandir essa identificação para “comportamento tóxico”, especialmente porque estamos em um mundo onde as ideias tradicionais de gênero estão passando por uma fase de dissolução. Como qualquer transição, progresso ou mudança em algum nível de difusão, a dor e a frustração tendem a ocorrer à medida que o conteúdo das ideias e “pré”-conceitos sofre mudanças. Mas vamos manter nosso foco nos homens e a toxicidade como uma tendência masculina, pois essa é uma área de interesse pessoal para mim, tanto como homem, como anarquista, como psicólogo social e como ser humano tentando definir-me, tomando um interesse no que está acontecendo e questionando o por quê, ao invés de entrar em resistência imediata.


Se buscarmos o que é oferecido na web sobre como os homens lidam com o conteúdo mutável da masculinidade, encontraremos desculpas pela masculinidade tóxica sob o rótulo de de “machonaria”, um jogo de palavras sobre masculinidade e maçonaria, os incels (celibatários involuntários) no espectro privado e, em seguida, temos o reino maior focado na importância do direito dos homens poderem expressar emoções e chorar. Entre tudo isso temos muito boas opções de educação sexual e como sermos emocionalmente sensíveis com as parceiras românticas e como sermos menos solipsistas.


O que vejo nestes espectros é que sejam apenas modalidades que falam em como lidar com a tensão, frustração, estresse e pressão. Sobre homens que pensam que isso seja apenas sobre o direito a chorar, ou pensam que se trata de algum ridículo direito humano ao sexo. Trata-se de homens que mostram emoções através da agressão e que se tornam extremos no espectro.


Sinto que tudo está bem perdido e fora de centro. O problema não é sobre os homens terem o direito de chorar ou foder – essas são as consequências de se engolir muita merda. E, como qualquer merda que é armazenada, precisa-se encontrar um alívio e se tornar físico ou emocional, pois estes são os caminhos comuns para diminuir a pressão e evitar implosões passivo-agressivas.


Acredito que a solução esteja na comunicação, na comunicação destemida, no compartilhamento aberto dos sentimentos e nas “verdades” temporárias pessoais, com flagrante desrespeito à reprovação ou ao ridículo. Mas isso é duro e difícil. Falar de si mesmo através do filtro da honestidade é muito difícil. Afinal, mentimos mais para nós mesmos do que para qualquer outra pessoa… e que o mundo contemporâneo seja tão cheio de regras silenciosas e barulhentas, que o que é apropriado e impróprio de se dizer pode fazer as pessoas se afastarem e ficarem caladas sobre o que sentem por medo (sim, MEDO) porque pode machucar alguém, ser impróprio e/ou colher a desaprovação alheia. Eu digo, foda-se o medo, sempre jogue aquele ás de espada, a carta da verdade, e isso trará paz, reduzirá a tensão e, a longo prazo, trará a você a plenitude e um caminho honesto para o seu futuro, sem medo.


Mas imagino que isso seja difícil. Nós não temos linguagem emocional; fomos condicionados a não nos preocuparmos com isso porque isso traz mágoas e desaprovações. O que precisamos mesmo é nos treinarmos para falar mais sobre nós e não sobre os outros.


Porque sim, falamos muito mais sobre as outras pessoas do que sobre nós mesmos, nossas ideias, nossos sentimentos e a tapeçaria de nossa alma. Você não acredita em mim … bem; dê uma chance ao programa da Netflix, The Circle. O programa é uma demonstração bastante magistral de como as pessoas são tímidas e medrosas ao compartilharem sobre elas mesmas, e que nas poucas vezes em que isso ocorre rola uma eternidade de pavor que surge nos segundos anteriores ao feedback para a pessoa que compartilha. Bate o medo do julgamento, bate o medo de ser ridicularizado. É mais fácil falar dos outros, distanciar-se do seu centro. Nossa vergonha, nossas falhas, nossa beleza e nossa integridade são todas abaladas em uma glória cósmica que reside no centro de nosso ser.


A boa conversa, o compartilhamento honesto, começando a gerar uma linguagem emocional ao compartilhar “o que é” e “o que não” talvez seja a forma como os homens (e a humanidade em geral) deva começar a curar tudo o que é tóxico. Tudo o que se acumula se torna tóxico, e podemos evitar que isso ocorra ao colocarmos para fora na forma de ideias compartilhadas. As idéias representam uma riqueza de potencial, uma riqueza filosófica e, ao expressar essas idéias em nosso centro, começamos a ficar capacitados a construir intimidade, o que para Mike Meyers no filme O Guru do Amor expressou como “Eu falo dos ensinamentos da Intimidade (Intimacy), ou Into-Me-I-See ™”. Into-Me-I-See, isto é, “dentro de mim, vejo” que tem a ver com enxergar-se bem e entender também o que é a nossa projeção no outro.


Acredito que muito do que é expresso como tóxico hoje está tristemente enraizado no medo da intimidade, porque na intimidade nos tornamos vulneráveis ​​e arriscamos tudo: ridículo, glória, exaltação, rejeição e paz. Este é o ás de espadas.

Créditos da imagem: Pixabay


bottom of page