– O que seu pai disse? – perguntou Fizban, gentilmente.
– Ele disse que os kenders eram pequenos porque nosso destino era fazer pequenas coisas. ‘Se olhar para as coisas grandes do mundo mais de perto,’ ele disse, ‘você verá que elas, na verdade, são feitas de coisas pequenas ligadas umas às outras.’ Aquele dragão enorme lá embaixo, nada mais é do que pequenas gotas de sangue. São as coisas pequenas que fazem a diferença.
– Muito sábio seu pai.
— Conversa entre Tas e Fizban, em Dragonlance: Heróis da Lança
É comum tentarmos sempre pensar em coisas grandes. Queremos sempre alcançar marcos que façam a diferença. E muitas vezes, na ânsia de tentarmos alcançar estes marcos, nos esquecemos de que a realidade é bem diferente: são as pequenas coisas que fazem diferença.
Anos atrás, eu me iniciava no treinamento de Kung-Fu. Meu professor, mestre Pedro, era um ótimo professor, sabendo dosar de forma correta e interessante o nível de respeito, brincadeiras, seriedade e responsabilidade ao nos ensinar. Meu primeiro intento ao começar essa atividade era conseguir gastar um pouco a energia acumulada de um garoto de 16 anos. Minha rotina de treino era pesada, sendo praticamente 4h diárias de treinamento. E logo no início, ele me solicitou que para continuar fazendo as aulas de Kung-Fu, eu me inscrevesse nas aulas de Tai-Chi, sob o pretexto de que para alcançar o que eu queria, o Kung-Fu apenas não seria o suficiente.
Pareceu uma coisa estranha isso. No início, eu achei que era quase uma “mentira” na intenção de me fazer ser inscrito em mais uma atividade. Depois de algum tempo fazendo o Tai-Chi, percebi o quão certo e providencial foi essa pequena diferença: o Kung-Fu me fazia gastar a energia do corpo, mas minha mente não conseguia se aquietar. Na ânsia de gastar a parte visível da energia, eu me esqueci que de nada adiantaria se não controlasse minha mente.
Assim, infelizmente, é normalmente o nosso processo: olhamos e focamos no panorama geral, sem pensar que ele é feito de pequenas coisas aglutinadas. Pare para pensar, por exemplo, na sua casa/prédio. Ou até mesmo no cômodo que você está agora. Cada coisinha que está nele é responsável pela forma que você o enxerga.
Isso acontece também na maior parte das pessoas quando se trata de treinamentos mágicos. O primeiro pensamento de qualquer pessoa era soltar uma bola de fogo em cima dos desafetos! O interessante é que se olharmos para todas as histórias de heróis, há um progresso deles até se tornarem quem realmente são, podendo assim fazer diferença no mundo que vivem. Poucas são as histórias que já começam com o herói em seu status completo. Até porque o caminho é o que o torna um herói.
Quantos de nós não desejaram alcançar grandes feitos, sem nem ao menos conseguir fazer coisas mais simples? Se queremos ir além de qualquer outro marco já feito, devemos seguir a pequenos passos, sendo capazes de lidar com cada minúscula situação e aprendendo com cada nova empreitada que nos seja apresentada.
Deixo aqui algumas ideias que uso em meu dia-a-dia, para tudo.
Comece pequeno: se você não consegue meditar nem por 3 minutos, planejar meditar 10 minutos por dia seria se comprometer com a falha.
Defina metas plausíveis: não adianta tentar definir uma meta de meditar todo dia, inclusive sábados e domingos, se você não consegue meditar nem duas vezes na semana.
Crie hábitos: por mais difícil que pareça, hábitos são grandes aliados em qualquer tipo de treinamento, inclusive os mágicos. Ao se criar hábitos, não pensamos muito se queremos fazer ou não algo; apenas o fazemos. E isso pode ajudar os mais preguiçosos.
Dê a si mesmo recompensas por metas atingidas: funcionamos muito melhor com recompensas do que com “castigos”. Logo, uma boa forma de criar um hábito é se dar algum tipo de recompensa quando algo programado for feito da forma correta.
Crie um plano: talvez alguns diriam que isso está relacionado com a questão das metas plausíveis. Porém, o ponto aqui seria criar uma agenda/tabela sobre o que será feito e quando. Para algumas pessoas, criar uma agenda de horários pode ajudar bastante a verificar se as metas são plausíveis e se é possível seguir com elas.
Não desista nem desanime: é comum isso acontecer quando vemos nossas metas ou planos falhando. Ao contrário do que pensamos, muitas vezes isso só acontece porque fizemos planos que não eram viáveis. Como eu poderia meditar por 10 minutos se não consigo me concentrar nem por 3? Em caso de falha, faça uma reavaliação do seu plano, tente entender o porquê, o que poderia ter sido feito diferente.
Nunca tente encontrar um culpado além de você: essa talvez seja a mais difícil. Por mais que muitas vezes possamos dizer que algo ocorreu por causa de outrem, o maior culpado de nossas falhas é, na maior parte das vezes, nós mesmos. Encontrar alguém para colocar a culpa é uma transferência que não irá te ajudar em nada. Apenas assumindo a responsabilidade é que podemos aprender.
Como você pode ver, essas dicas funcionam muito melhor quando usadas em conjunto. E elas, por si só, são um exemplo do que estamos falando: apenas através de pequenos passos podemos alcançar feitos maiores.
Imagem: Arte por Sergio Aldo
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