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Ícone: Bruxaria, Dior, Balenciaga e Moda

“Um ícone possui relação de semelhança com o objeto que representa. Ele possui três níveis: a aparência visual, as relações internas/estruturais e a metáfora.“ – Charles Sanders Peirce

É inegável que a figura da bruxa se tornou um ícone da cultura popular. E como todo ícone, a bruxa reivindicou com o passar dos anos o poder que lhe foi atribuído, transformando uma degradação em ideologia e desejo; isso faz com que as gerações hoje busquem nela algo que lhes foi tirado.


Iremos divagar em partes sobre esse universo de bruxaria e moda. Primeiro conversaremos sobre uma visão geral e superficial, ou seja, sobre aquilo que é visível aos olhos mundanos. Nos próximos artigos vamos adentrar mais profundamente em outros aspectos de moda e bruxaria que vão além da ótica dos olhos comuns.


Na última década observamos ateliês como Saint Laurent, Christian Dior, Givenchy e Alexander McQueen adicionando elementos místicos em suas coleções. Isso começou com pequenos detalhes e acessórios, até chegar ao ápice que podemos observar hoje. Mas por que esse universo se tornou tão evidente nas passarelas?


O movimento imortalizado por Woodstock nos anos sessenta nos introduziu uma onda de misticismo e tendências que ficariam conhecidas como estilo Hippie. Com uma influencia mais alternativa, franjas, couro, óculos redondos e contrastes de cores, essa foi a primeira manifestação da moda dentro do contexto místico com notoriedade. Ícones como Fleetwood Mac marcaram essa década dentro da música e contribuíram para o sucesso da imagem do movimento.


Tivemos nos anos noventa o grande “boom” da bruxaria propriamente dita com “Jovens Bruxas”. Esse filme é querido por muitos místicos que viveram nessa época e sem dúvidas influenciou muito a moda gótica urbana. Jaquetas de couro, correntes, olhos escuros, batom preto, e um toque de rebeldia do movimento punk dos anos oitenta marcam o estilo.


Em 2013 apareceram as bruxas de Ryan Murphy, fashionistas e mais adultas, trazendo modernidade para inúmeras tendências do passado e sobre isso que vamos discorrer porque a imagem da bruxa deixou de ser parte somente do universo infanto-juvenil e se popularizou durante esse período também por entre os adultos.


O clássico chapéu colonial, visto em “O Mágico de Oz” recebeu uma releitura na alta costura na coleção de 2008 da designer Luella. Em outubro de 2012, o designer Hedi Slimane fez sua estreia dentro do Ateliê Saint Laurent trazendo uma releitura com influencias sombrias onde capas, combinações de preto e dourado e tecidos esvoaçantes foram reinventados; sua inspiração nos anos setenta caminha entre Stevie Nicks e Marjorie Cameron unindo dois ícones, a bruxa e o rockstar. E foi sob essa influência que nasceram as bruxas de AHS: Coven.


2014 foi um ano que mudou a estrutura da moda para os que viviam inseridos no contexto do esoterismo rebelde sem causa e nunca tiveram grandes afinidades com a alta costura, tampouco referências dentro da mesma. O estilo gótico típico do Evanescence e o hippie “good vibes” foram transformados pelas passarelas da Fashion Week, transformando o visual daqueles que se inspiravam na bruxaria para compor seu estilo.


Tivemos depois disso na primavera de 2015 a coleção Givenchy apresentando uma releitura semelhante ao que Saint Lauren havia feito, mas focando na subcultura dos anos noventa. Nasceu um novo estilo para Nancy Downs e seu choker coleira. A moda colegial demoníaca de Jovens Bruxas foi trazida de volta à vida e desde então estamos vivendo uma onda de releituras dos anos noventa. A nova série da Netflix, remake do clássico “Sabrina, The Teenage Witch” claramente inspirou-se na coleção primavera-2018 ready-to-wear da Dior que se assemelha muito com o que Givenchy apresentou em 2015.


Outros grandes designers, famosos por vestidos de galas como Vera Wang, Vivienne Westwood, Alexander McQueen, Chanel e Marc Jacobs beberam das mesmas fontes de inspiração, trazendo o estilo vitoriano com suas rendas negras e composições complexas, adicionando pequenas doses de cores e estampas em suas criações. Vimos verde, azul, dourado e prateado sendo inserido nesse universo de roupas pretas. Isso tudo fez com que a imagem da bruxa deixasse de pertencer ao submundo cultural e passasse a ser um ícone desejado.


E essa moda não se limitou somente ao público feminino. A moda masculina também sofreu influências de todos os aspectos anteriores, trazendo releituras que coubessem no universo do homem. Podemos observar isso na coleção do Alessandro Michele para a Gucci.


E para finalizar esse primeiro artigo, a tendência que podemos observar está na volta das capas ou “cloaks”. A coleção de inverno-2017 da Prada, trouxe algo que a D&G havia feito em 2012, apresentando uma nova forma de usar capas, agora encontradas com o nome de “cape blazer”. Modelos masculinos e femininos encheram as passarelas da Fashion Week de Milão. Destaque aqui também à marca The Emperor que produz exclusivamente para o universo da moda masculina.


E o que isso tudo quer dizer? O que isso muda para nós? O que, de fato, se faz relevante para a bruxa divagar por isso?


A moda reflete um pensamento, ela se inspira naquilo que as pessoas aspiram e a bruxa deixou de ser um repúdio e se tornou um modelo a ser desejado devido ao seu comportamento, autoconhecimento e reconhecimento do poder pessoal. É isso o que é visto pelos olhos do leigo quando este se depara com significado empírico da bruxaria dentro dos símbolos, signos e significantes. Por mais que os discursos digam o quão fútil ou superficial é o mundo da moda, é tangível o poder que ela possui de transformar um conceito ou propagar uma mensagem através de meios empíricos.

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