Há livros que, apesar de seu aspecto antigo e de suas páginas desgastadas, carregam dentro de si uma sabedoria atemporal. The Secret Commonwealth of Elves, Fauns, and Fairies, de Robert Kirk, é uma dessas "velhariazinhas" preciosas que, com suavidade e mistério, me ajudou a moldar meus questionamentos sobre a natureza dos elementais quando comecei a estudar Bruxaria Tradicional.
Escrito no final do século XVII, o livro surge quase como uma janela que se abre para um mundo encantado que sempre esteve lá, mas que poucos ousam observar com olhos atentos. Kirk, um reverendo escocês de mente inquieta, propôs-se a explorar as dimensões ocultas onde essas entidades misteriosas, como fadas e faunos, habitam.
Mais do que apenas uma coletânea de lendas, seu texto é um estudo quase antropológico, em que ele descreve os costumes, as leis e até as interações entre os seres humanos e esses habitantes invisíveis da natureza.
Robert Kirk traz à tona a ideia de que essas criaturas não são meros frutos da imaginação popular, mas sim seres que coexistem conosco em planos diferentes de realidade. Em suas palavras: "Eles têm corpos sutis, o que significa que às vezes podem ser vistos pelos mortais, mas na maioria das vezes permanecem invisíveis." Eles existem em um limiar misterioso, entre o mundo visível e o invisível, um povo "tão tênue que poderiam facilmente escapar de nós se não fosse a sua curiosa habilidade de se mostrar a quem desejam". Essa descrição dos elementais, por Robert Kirk, capturou meu imaginário desde a primeira leitura, não apenas pela beleza da linguagem, mas pela verdade que ela parecia sussurrar. A delicadeza com que ele trata essas entidades me cativou e me fez refletir sobre as camadas sutis da realidade que nos cercam.
O livro não é apenas uma investigação acadêmica, mas uma ode à magia oculta no cotidiano. Para uma bruxa pragmática, um bálsamo. As descrições que ele faz das fadas — "pequenas criaturas aéreas, que vivem no ar, mas com paixões e desejos semelhantes aos dos humanos" — evocam uma imagem doce e quase melancólica de seres que dançam entre o tangível e o intangível, o visto e o não visto. E como não pensar nas perguntas profundas que essas descrições nos provocam? Robert Kirk me ensinou que talvez a natureza dos elementais resida justamente nessa fluidez, nessa capacidade de estarem presentes sem que notemos sua existência por completo.
Por mais que a obra tenha raízes no folclore escocês e nas tradições cristãs, ela transcende as barreiras religiosas. O autor sugere que essas criaturas, ainda que "caídas da graça" ou perdidas no tempo, mantêm uma conexão com o divino que é ao mesmo tempo misteriosa e poderosa. Elas seguem suas próprias regras, obedecem às suas próprias leis espirituais, e os mortais que cruzam seu caminho devem tratá-las com respeito e cautela. Em muitos momentos, ele adverte contra a tentativa de controlar ou forçar esses seres a se revelarem, como se o simples desejo humano de subjugar o misterioso pudesse trazer consequências desastrosas.
O mais belo no texto de Robert Kirk é a forma como ele sugere que esses seres não são apenas parte de um universo mítico, mas que, talvez, tenham uma ligação intrínseca com a nossa própria alma. Ele nos convida a considerar que as fadas e os faunos, com suas presenças sutis e quase etéreas, nos espelham de maneiras que não compreendemos totalmente. Como ele escreve: "Eles são mais racionais, inteligentes e também mais graciosos em espírito do que os humanos. Sua natureza não é completamente angélica, nem completamente humana, mas algo entre ambos." Isso sempre me levou a pensar sobre a nossa própria conexão com o mundo espiritual, sobre como podemos acessar essas dimensões de sabedoria que escapam ao olhar superficial.
The Secret Commonwealth não é apenas um livro sobre fadas; é uma meditação sobre a coexistência entre o visível e o invisível, sobre as fronteiras porosas que separam os mundos. Foi através dessas páginas antigas que meus questionamentos sobre os elementais floresceram, e as respostas, embora raramente claras, nunca deixaram de ser fascinantes. Este livro é uma lembrança doce de que há muito mais no mundo do que os nossos olhos podem ver, e que, às vezes, é preciso uma "velhariazinha" como essa para nos lembrar disso.
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