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Foto do escritorKaty Frisvold

Suspiria

Atualizado: 8 de fev. de 2022

Atendendo ao pedido da nossa leitora Danielle Madeira, resolvi fazer uma resenha do filme Suspiria que foi lançado em abril de 2019. Vou lembrar aqui que o diferencial das resenhas que eu possa vir a fazer aqui no Espelho de Circe é de que elas estejam partindo de uma visão mágica e não necessariamente a de uma especialista em Cinema, e então pode diferir um bocado dos críticos de Arte.


Sabendo que Suspiria é um remake, preferi assistir a nova versão para que não me contaminar com qualquer purismo ou lealdade com a primeira versão. Depois de assistir o original, percebi que minha decisão foi realmente muito boa. São filmes bem distintos.


O original, de 1977, é bem a cara do horror à italiana, com uma cansativa trilha sonora que acaba atrapalhando os diálogos. À luz daquela época a personagem central, Susie Bannion, só poderia ser uma garota doce, inocente e frágil. No entanto, há no decorrer do filme uma contextualização em relação ao envolvimento da companhia de dança a um coven de bruxas, infelizmente limitando a estória como contada por um especialista, e isso não rola na versão atual. É lógico que isso ocorre de acordo com o que se entendia sobre bruxas na época: que bruxas eram más porque é assim que elas adquiriam poder.


Nenhuma importância é dada à dança como instrumento de poder. Pouco se vê do coven propriamente, sendo que a companhia de dança (de ballet clássico) é mista. A forma em que as bailarinas são retratadas corresponde à forma em que as mulheres eram retratadas pelo cinema da época: florezinhas frágeis, superficiais e com claras limitações intelectuais. O final também é bastante diferente.


Na versão atual, houve maior sensibilidade com o tema, sem retirar a agenda maléfica das bruxas – se assim não fosse, não seria um filme de terror. A dança é vista como um instrumento para se levantar poder (e até lançá-lo), a concentração de energia na respiração e tensão culminando com a expiração e o êxtase/gozo. Talvez o ballet clássico não tivesse ferramentas suficientes para representar esta tensão entre vida e morte de forma tão óbvia quanto o “Volk”. A escolha do figurino para a dança traz à mente nudez, o bondage e o sangue, uma escolha eficiente para demonstrar poder e opressão.


O “Volk” foi baseado em uma apresentação chamada “Les Médusés” que ocorreu em 2013 no Louvre. Foi inspirado pelas esculturas do museu onde as ninfas pareciam estar sob um encantamento, bem como no mito de Medusa – a transformar as pessoas em pedras e a encantá-las. Sendo Medusa uma das três Górgonas, vamos encontrar na Suspiria atual as “Três Mães”. Não, senhores, não as “três faces da deusa”, mas três entidades “sinistras”: Mater Suspiriorum, Mater Tenebrarum e Mater Lachrymarum, em bom latim, Mãe dos Suspiros, Mãe das Sombras e Mãe das Lágrimas. Este triunvirato sombrio deu base não só ao Suspiria, mas também aos filmes Inferno e O Retorno da Maldição – A Mãe das Lágrimas. Deve ainda dar um quarto filme, um prelúdio a todos estes. Sendo assim, Inferno e O Retorno da Maldição devem ganhar resenhas aqui, em breve.


Em resumo, tive alguns sentimentos ambíguos com o filme: Se por um lado eu gostei de ver como a trama foi construída ao redor de um grupo completamente feminino, cheio de sutilezas e expressões corporais poderosas, achei que o contexto de “coven de bruxas” tenha ficado muito solto e no original, por mais absurda que fosse a explicação, pelo menos era fornecida. A direção foi feliz em trazer uma atmosfera interessante, que dá a impressão que a gente está assistindo algo “torto e proibido”, mas irrelevante ao expor demais o psiquiatra. Ficou longo demais, e se tivessem nos economizado com este extra tedioso do psiquiatra, teria ficado melhor. Fora que se Tilda Swinton brilhou como Madame Blanc, ela ficou terrível e até evidente no papel de um velho decrépito. A personagem central, Susie, surge como uma figura bem mais interessante e forte, porém, descaracteriza-se completamente o final quando comparado com o original.


Sobre a ideia do filme em si, é importante destacar que quem busca a ideia de “três faces da deusa” vai se desapontar. Está mais para as górgonas ou as fúrias. Do que é possível salvar em relação ao que é real na bruxaria, poderíamos até chegar ao ponto de assumir deidades sombrias, ou da expressão mágica como intrinsecamente conectada ao emocional e que encontra vazão numa variedade de formas, incluindo as artísticas. Não é um retrato do que seja a bruxaria, mas para os fãs do gênero, como eu, é um bom filme de terror.


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