Em meus braços, têmporas e nádegas esfrego com fervor uma mistura;
Macerada em lua negra, com ervas de bruxa e cúrios in natura.
Alço voo na forma de um gato preto como dizem na literatura.
Percorro o cerúleo céu estrelado e iluminado pela lunar alvura.
Momento esse, retratado por Goya naquela sua pintura.
Minhas pequenas patas agarram o tronco de uma árvore e malabarista me movo alcançando o chão num elegante movimento.
Meu corpo graceja a cada passo dado, na forma de gato, silencioso por fora; mas dentro, alento.
A fogueira aquece minha face à medida que deixo de ser bicho, tornando-me humano de novo,
Sou recebido por meus iguais no círculo de pedras, com cantos e encantos; um recanto.
Vestido de céu, somos a pura natureza noturna, ofensiva e selvagem.
As crias que dançam à espera do Diabo, movimentos ritualísticos, silenciosa linguagem.
O temor do desconhecido, chamado de Sabbath das Feiticeiras pelos que não tem em si, audácia e coragem;
De saborear o instinto, o acentuado sabor de transpor qualquer margem.
No auge da noite ele veio ao encontro dos filhos que por ele clamavam.
Visto como uma negra raposa pelas bruxas que a ele uivavam,
Como o chifrudo bode por aqueles que alucinados o conjuravam,
E como afeiçoado soldado pelos que em erótico frenesi, gritavam.
Mestre Leonard, Bucca, Herne, Tubalo, Karnayna, Atho, todos o saudavam.
Um beijo de boas-vindas, uma calorosa recepção.
Suspiros de torpor, risos de alegria, sons que transbordavam do coração.
O Deus de Chifres muitos agrados recebeu naquela celebração.
Osculum Infame, nomearam nossa reverência a um Deus que não era Cristão.
Beijo da Vergonha é quando dois lábios se tocam, sem nenhuma emoção.
Costas com costas dançamos, de cabeça para baixo voamos.
Dando voltas ao redor do fogaréu em animais nos transformamos.
Nossa luxuriosa natureza evocamos;
Os atos de vênus com paixão e gozo, avocamos.
No ápice do transe profano, orgástico, nosso Ofício exaltamos.
E o Deus de três chifres com face escura a todos abençoa.
Reafirmando que aqueles que ali estão, são maiores do que qualquer outra pessoa.
Sua grossa voz, como se o próprio vento fosse, ecoa.
Pelas árvores, mentes e almas, entoa.
“Os poderes por mim concedidos são maiores do que qualquer coroa.”
O festejo das bruxas no crepúsculo se finda; o fim a tudo alcança.
O Chifrudo como atro pássaro alça voo, eternizando a lembrança.
Como cão de Santo Humberto corre pelas matas, mantendo-nos em segurança.
E o tronco de melancólica feição, nos provê toda bonança.
Suas concubinas e seus amantes; almas enobrecidas.
Voamos de volta na forma animal, missão cumprida.
Amanheceu o sábado; um novo dia.
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