Osanyin é conhecido principalmente por ser o dono das folhas. Entretanto, assim como todos os Orixás, há mais nele do que uma investigação superficial revela. Muito interessante é a faceta do “Osanyin falante” que vemos na África. Gostaria de discutir um pouco sobre esse “Osanyin” um tanto desconhecido nas discussões Brasileiras.
Peter Rutherford McKenzie elenca uma categoria que chama de “Língua Sagrada” na qual ele coloca a voz do Egúngún e também o ventriloquismo de Osanyin (dentre outras coisas). Para quem nunca presenciou uma cerimônia de Egúngún, garanto que é algo lindíssimo e extremamente impressionante. Impressiona primeiro justamente a voz do Egúngún, uma voz rasgada, rouca, de quem fala inspirando pela boca. Essa minha tentativa de descrição, entretanto, é pobre e só poderá dar uma breve ideia. Ao vivo, a voz chega a incomodar, de tão estranha. Além disso, os movimentos do Egúngún são estranhos e muitas vezes nada humanos. Ao ficar de cara com um, não há dúvidas de que algo além do ordinário está se passando.
A língua de Osanyin
O ventriloquismo de Osanyin nunca tive a oportunidade de presenciar. Sabe-se que o último sacerdote a ter um “Osanyin falante” no Brasil foi Cipriano Abedé que morreu em 1933 (Recomendo o livro – “Um vento sagrado” de Muniz Sodré e Luís Fililpe de Lima). Por isso, conto com a descrição de terceiros. Em 1854, James White estava em Lagos e relatou que visitou sacerdotes de Osanyin que tinham figuras de madeira que falavam com um tom de voz único e que falavam em uma língua que só o sacerdote entendia.
O termo “ventriloquismo” utilizado por Mckenzie não é em vão. Muitos atribuem o falatório do boneco a essa técnica. Entretanto, há um relato de que Cipriano Abedé teria pedido que um deputado colocasse o dedo em seus lábios para evitar qualquer manipulação enquanto seu Osanyin falava. Conta a história que o Osanyin falou e falou tantos segredos que o deputado saiu desesperado e assustado.
Ventriloquismo também tem um significado mais antigo que remente aos Gregos antigos. Na Grécia Antiga, o “ventríloquo” era um tipo de médium que falava por um morto ou por um espírito. Era um canal que emprestava sua voz. Portanto, o termo ventriloquismo utilizado para o Osanyin também pode ser compreendido de maneira similar. Apesar de o sacerdote poder, de fato, influenciar na fala do “Osanyin”, isso não tira o caráter sagrado ou mágico desse acontecimento.
Sobre o que fala Osanyin?
Como o deus da floresta e das plantas, Osanyin não poderia parecer muito relacionado à adivinhação. Entretanto, lembremo-nos da relação intensa entre Osanyin e Orunmila. Embora essa relação seja demonstrada em diversos mitos de maneira diferente, ela deixa claro que os dois estão conectados e que, portanto, também estão suas funções. Assim, podemos entender de maneira primeira a dimensão da adivinhação de Osanyin.
Apelos práticos ao Osanyin
Ojedokun e Ogundipe falam em seu artigo “The Utilisation and Role of Osanyin Deity in Crime Management in Iseyin Town, Nigeria” sobre como a resolução de crimes é algo que é muito peticionado ao Osanyin. Com frequência pessoas e até policiais vão aos sacerdotes de Osanyin pedir para saber quem os roubou ou os lesou de alguma maneira e onde estariam seus itens roubados. Os autores chegam a comentar que a adivinhação de Osanyin era utilizada em tribunais antigamente, tamanha a certeza em sua eficácia.
Certamente é bem surpreendente para quem está acostumado a entender Osanyin “apenas” como o dono das folhas, perceber como seus domínios vão além. É uma lição acerca da complexidade e da engenhosidade dos espíritos, com certeza.
Antes de ir embora, veja esse vídeo de um “Osanyin” falando:
*Imagem de capa, boneco de “Osanyin”. Nigéria. Retirado do Museu de Nova Orleans.
*Segunda imagem, Opá Osanyin.
*Terceira imagem, figura de Osanyin. Nigéria.
*Quarta imagem, figura de Osanyin na Santeria. Cuba.
Comments