Eu sei, a gente cresceu ouvindo que a mulher ideal é aquela que tem a doçura da Maria, a Virgem, claro. Aquela figura serena, submissa, que aceita tudo, perdoa tudo, e, com sorte, não reclama quando você deixa a toalha molhada em cima da cama. Sim, o modelo perfeito de mulher: discreta, silenciosa, e, mais importante, sempre de prontidão para carregar nos ombros qualquer peso do mundo. Mas vamos ser sinceros, alguém perguntou à Maria se ela queria ser essa mulher? Acredito que não.
Enquanto isso, do lado de lá, os homens, em tese, deveriam se inspirar em Jesus. O cara andava de sandálias, pregava o amor ao próximo, perdoava os pecados, e, claro, dividia o pão. Acontece que, convenhamos, a maioria dos homens olha para essa ideia de “dividir o pão” e pensa: “melhor guardar todo o pão pra mim, vai que acaba”. Eles preferem outra inspiração. Jesus é bacana e tal, mas os homens olham mesmo é pra cima, pra aquele lá: Deus. Aquele que julga, decide quem vive e quem morre, e, claro, tem poder absoluto. Poder, meus amigos, é o que importa.
Afinal, vamos combinar, Jesus ficava por aí abraçando mendigos, pregando paz, amor, e dividindo o almoço. Mas o que os homens realmente querem? Poder julgar! Quem não quer sentar no trono celestial e decretar o destino dos mortais? Inspirar as massas? Não, obrigado. Prefiro impor respeito. Dividir? Que nada! Melhor reter, controlar, mandar e desmandar.
E assim, ficamos com esse modelo desigual. Enquanto a mulher segue sendo moldada no formato “Maria – mãe, sofredora e perdoadora”, o homem busca se espelhar naquele ser invisível, inatingível e, francamente, impassível, que reina sobre todos. Porque, sejamos sinceros, quem quer ser Jesus, andando pelas ruas de sandálias, quando você pode ser Deus, flutuando por aí, onipotente, omnisciente e (muito importante) sem ter que lavar os pés de ninguém?
No final das contas, o que a história nos mostra é que Maria, essa mulher idealizada, existe para suportar. Já o homem? Ah, ele quer mais é jogar o raio, fazer a barba de Zeus e ditar as regras da humanidade, de preferência sem levantar da cadeira. E assim vamos: mulheres sendo ensinadas a perdoar e homens ensinados a julgar. E depois reclamam que o mundo anda meio fora de eixo.
Por isso, fica a pergunta: não tá na hora de reformular esses papéis? Que tal os homens começarem a dar uma chance para o Jesus dentro deles e pararem de tentar ser Deus? E, quem sabe, as mulheres possam seguir o caminho da Maria que disse “chega!” ao estereótipo. Porque, vamos combinar, ninguém aguenta mais carregar essa cruz.
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