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Foto do escritorNicholaj Frisvold

O Dia em que a Floresta chamou o Papa

“O primeiro livro escrito foi a Criação.” – São Agostinho


O Papa Francisco I despertou muitas emoções e tensões desde que assumiu o trono de São Pedro e se tornou a “Voz de Deus”, e o recente Sínodo da Amazônia pisou em muitos calos de cardeais, não apenas admitindo que homens casados ​​fossem ordenados sacerdotes, mas mais ainda, vendo na fé indígena a verdade teológica expressa de uma maneira perigosamente próxima da pior das heresias, o panteísmo.


Com esse ato, o papa acumulou ainda mais adversários ao mostrar novamente ao Vaticano o que significa ser alguém que, pasmem, segue os ensinamentos de Jesus!


A Igreja Católica Romana é uma instituição que sempre servirá como medida ao desenvolvimento da civilização ocidental. Há pouco em termos de moral, política, ética, cultura e zeitgeist que não possa ser percebido através das transformações e da presença contínua da Igreja. Como tal, a Igreja, ou a “Cidade de Deus”, visando a perfeição e objetivos espirituais em um mundo material em determinados momentos da história envolve-se de várias maneiras e em diferentes graus de intensidade.


A Igreja Católica Romana passou por tantas mudanças e cismas desde a sua fundação no século III que demonstrou a impossibilidade de permanecer a mesma em dois milênios. E a Igreja busca a permanência em sua localização – tanto a geográfica quanto a figurativa – como coração da cristandade e como o eixo da fé, tão replicada em seus prédios físicos que conteriam o sopro do Espírito Santo.


Cada novo papa dá uma nova voz a Deus, uma cor e sabor, mostrando-nos que Deus é um multiverso e que um sujeito pode representar Sua presença divina e depois dar lugar a um outro. O atual Papa Francisco I se destaca na sucessão do papado a tal ponto que nenhum papa desde Alexandre VI (Rodrigo Borgia) reuniu mais inimigos em seu círculo interno do que o atual vigário de Deus na Terra.


E sim, podemos nos perguntar como uma eleição feita com a ajuda e inspiração do Espírito Santo possa até ser sujeita a debate, odiada ou questionada, mas acho que nem todos os bispos e cardeais estejam tomando Jesus Cristo como a medida de como eles devam se comportar no mundo, como sempre. O Papa Francisco I é quem definitivamente o faz. Ele é o primeiro papa a inserir o símbolo monástico de sua ordem em seu selo papal, dando uma pista de que sua lealdade também está, coerentemente, com os jesuítas. Como esperado, isso traria alguma tensão ao papa eleito, pois ele demonstra que a lealdade à sua ordem monástica permanece em primeiro plano, seguida pelo Vaticano – e Francisco esfregou isso suave, mas firmemente na cara de todos, anunciando com este gesto que mudanças haveriam de ser testemunhadas e que era vez do exemplo partir de cima.


O Papa Francisco, considerando-se em primeiro lugar um jesuíta, não está apenas mudando o trono de ouro por um de madeira. Ele também está ocupado com suas vigílias noturnas em oração antes de falar publicamente, porque é aqui em oração, vigília e súplica que, de acordo com os jesuítas, nos conectamos com Deus. Resultado óbvio desta prática seria sua empatia e aceitação, e como ele vê ‘Deus em todas as coisas’. Essa é a essência da doutrina jesuíta apresentada por Ignácio de Loyola, que dizia que apesar do estado venenoso e caído uma pessoa poderia, através da meditação e contemplação, ressuscitar para testemunhar o “Amor de Deus em Todas as Coisas”, até mesmo em seu adversário, e até mesmo entre os povos indígenas da Amazônia. Não só isso, o fato de Francisco I ser um jesuíta e tomar o calor da bronca de proteger os povos indígenas nos soa como uma necessária reparação histórica, quando falamos de Brasil.


Ao reconhecer que a fé do povo indígena na Amazônia seja sancionada pela Igreja como legítima, ele toca no mesmo ponto que fez com que Giordano Bruno fosse queimado por heresia em 1600.


Temos que reconhecer a beleza disso, porque a meta dos exercícios espirituais de Loyola, o treino básico dos jesuítas, é todo focado naquela magnífica virtude que fez o Jesus Cristo do Novo Testamento famoso: a empatia nascida ao ver o Amor de Deus em Todas as Coisas. Poderíamos dizer que finalmente os católicos têm um Papa que verdadeiramente tenta ser “mais como Cristo”? Se assim é, não nos causa espanto ver tanta gente querendo crucificá-lo.


Empatia e amor. Era isto que estava no núcleo da “nova lei” de Jesus. Se o Papa Francisco I é a voz da cristandade, com todo este papo de amor, perdão, compreensão e aceitação, talvez possamos entender a razão dele não ter enviado algumas ordens de excomunhão bem cabidas aqui para o Brasil. Se tudo isso for sincero, talvez o catolicismo esteja se tornando, finalmente, o que o seu fundador pretendia.


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