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Foto do escritorKaty Frisvold

O Êxtase na Espiritualidade


Em uma das muitas capelas de Roma, uma estátua de mármore divide as opiniões das pessoas que fazem fila para visitá-la. Alguns, consideram-na como uma representação máxima de comunhão divina, outros a veem como uma escandalosa expressão de um orgasmo sexual.


Esculpida durante o período de 1645-1652, ela se encontra na Capela Cornaro, da Igreja de Santa Maria della Vittoria. Ela é considerada uma das maiores obras-primas do Barroco.


O Êxtase de Santa Teresa é uma escultura de Gian Lorenzo Bernini, um dos maiores escultores do século XVII, representando a experiência mística de Santa Teresa de Ávila, que é representada com os lábios semiabertos como se estivesse gemendo, enquanto é trespassada por uma seta de amor divino por um anjo que abre levemente o vestido da santa.


Mas o que é realmente o êxtase, e qual é a sua importância dentro da Espiritualidade?

Êxtase, literalmente quer dizer arrebatar-se, desprender-se subitamente, sair de si, elevar-se, e isso corresponde também ao sentimento de prazer. A palavra pode ser usada tanto para descrever o orgasmo quanto para descrever o transe.


Na espiritualidade, o êxtase é frequentemente associado a um encontro direto com o divino, seja através da meditação, rituais religiosos, práticas xamânicas ou outras técnicas espirituais. Esses momentos de êxtase são experiências poderosas que transcendem as limitações do ego e proporcionam uma sensação de união com algo maior do que nós mesmos.


A espiritualidade é uma dimensão profunda da experiência humana, permeada por uma busca contínua de conexão com o divino, com o transcendente. Ao longo da história, diversas tradições religiosas e filosóficas exploraram caminhos para alcançar estados elevados de consciência, nos quais é possível experimentar um profundo êxtase espiritual.


Na tradição mística, por exemplo, o êxtase é considerado o ápice da jornada espiritual, um estado de fusão com o divino. Místicos de diferentes tradições, como o sufismo, o hinduísmo, o cristianismo e o budismo, têm buscado atingir o êxtase como uma forma de alcançar a iluminação, a união com Deus ou a realização espiritual suprema. Para eles, o êxtase é um momento de transcendência, onde a separação entre o indivíduo e o divino se dissipa, permitindo uma experiência direta da unidade cósmica.


No cristianismo, o êxtase é buscado como uma união direta com Deus e uma experiência profunda do divino. Santos e místicos, como Santa Teresa d'Ávila e São Francisco de Assis, testemunharam momentos de êxtase espiritual, nos quais experimentaram uma profunda união com Deus e a presença de Cristo. Essas experiências extáticas são consideradas como uma graça divina, uma demonstração da proximidade e amor de Deus.


Essencial no culto das bruxas, o êxtase é buscado através de danças rituais, cânticos e práticas de transe, as bruxas induzem estados alterados de consciência, nos quais experimentam um profundo êxtase espiritual. Esses momentos extáticos permitem uma fusão com o divino imanente presente na natureza, levando a uma sensação de comunhão com o sagrado, os deuses as energias ancestrais. O êxtase oferece uma oportunidade de integração de partes reprimidas ou negadas de nossa psique, permitindo uma transformação em seres mais autênticos, empoderados e conectados com o divino.


Igualmente, nos cultos neopentecostais, o êxtase é buscado como uma experiência de encontro com o Espírito Santo. Através de momentos de louvor intenso, danças vigorosas, orações fervorosas e manifestações espirituais, os fiéis buscam um estado de êxtase espiritual, no qual experimentam a presença e o poder divino.

O que eu quero demonstrar aqui é que o êxtase espiritual é um dos maiores pontos de convergência dentre as formas de religião e espiritualidade.


Em estados de êxtase, as fronteiras do eu se dissolvem, e nos sentimos parte integrante do tecido do universo. Nesse sentido, o êxtase nos coloca em contato direto com a essência da vida e da existência, desafiando as limitações do ego e oferecendo uma visão mais ampla da realidade. É nesse momento que podemos experimentar um profundo senso de significado, propósito e conexão com o divino.


Além disso, o êxtase espiritual pode desencadear processos de cura e transformação pessoal. Ao transcender as preocupações mundanas e mergulhar na experiência extática, somos capazes de liberar bloqueios emocionais, medos e padrões limitantes que nos impedem de viver plenamente. O êxtase pode ser um catalisador para a cura interior, permitindo que nos reconciliemos com partes reprimidas de nós mesmos, encontremos paz interior e vivamos com maior autenticidade.


Embora o êxtase seja um elemento poderoso e transformador na espiritualidade, é importante abordá-lo com equilíbrio e discernimento. Nem todas as experiências extáticas são necessariamente espirituais ou saudáveis. É essencial buscar uma abordagem equilibrada, fundamentada em práticas espirituais sólidas, orientação adequada e autoconhecimento.


Existe uma linha muito tênue entre o êxtase e a histeria coletiva.


Mas como evitar esta forma de autoengano?


Talvez o êxtase não deva ser buscado como um fim em si mesmo, mas sim como uma expressão natural do processo de crescimento espiritual. A busca pelo êxtase deve ser acompanhada por uma compreensão clara de nossas intenções e um compromisso sincero com a jornada espiritual como um todo. Podemos perceber o êxtase como uma ferramenta para o crescimento espiritual, como forma cura e a busca por uma conexão mais profunda com o divino, mas mantendo em mente que o divino sempre está, também, manifesto... no outro.

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