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Ensaios: Sobre bússolas, círculos e compassos

Um tópico recorrente quando falamos sobre bruxaria tradicional e suas variantes é o “Witches Compass” ou bússola das bruxas. Erroneamente associa-se essa prática ou etapa ritualística ao círculo mágico moderno proveniente das práticas de magia cerimonial. Claro, que ambos os conceitos se mesclaram em alguns lugares e acabaram se tornando um meio-a-meio; então, vamos conversar um pouco sobre esses elementos e seus significados dentro da bruxaria.


Quando voltamos nosso olhar às práticas derivadas da magia salomônica, temos o círculo como um espaço delimitado cuja finalidade é proteger o magista durante a barganha com o espírito. Propositalmente, o triângulo de manifestação é posto à frente do círculo, mas não dentro dele. Desse universo nasceu a associação de proteção acerca dos círculos mágicos onde o praticante delimita um espaço “onde nenhum mal adentra e nenhum mal se origina”, e essa frase é comumente encontrada nos círculos de paganismo. Então, quando olhamos para práticas como as descritas no Lemegeton esse tipo de artifício é totalmente necessário, afinal, nunca se sabe quando uma negociação pode dar errado.

Seguindo temos a configuração que se originou com Robert Cochrane e sua tradição de bruxaria. O termo bússola das bruxas e outros, como Stang, são primeiramente mencionados sob estas nomenclaturas pelo criador do Clã de Tubal-Cain para se referir a velhos instrumentos da bruxaria. Sua ritualística assemelha-se muito à magia cerimonial devido aos seus passos e critérios, a utilização, contudo, é embebida de outros simbolismos.


A bússola de Cochrane é estruturada sob três anéis, onde cada um desses anéis representa uma passagem da vida e consequentemente são trabalhados de fora para dentro, representando a peregrinação da bruxa por entre os mundos. O primeiro anel representa a vida tal qual ela é sendo representada pelo sal, o segundo a morte representado pelas cinzas e o terceiro a passagem dos mundos representado por uma mistura de ingredientes, comumente sal, vinagre, água e/ou vinho.


Esse moinho, outro termo utilizado por eles para descrever a bússola nada mais é do que a bruxa caminhando pelos limiares do mundo dos vivos e do mundo dos mortos; e aqui temos uma outra função: o portal dos mundos. Diferente da magia salomônica onde o círculo é posto como um protetor, Cochrane propõe que o círculo é um portal pelo qual a bruxa adentra outros universos e vice-versa.

Esta, como um ser que coexiste em duas realidades não teme os seres do outro lado, pois os conhecem bem e sabe como se relacionar com eles por outros meios que não sejam a dominação ou o aprisionamento. Ela é sábia e conhece bem com quais seres ela pode se aliar.


Agora, voltando um pouco mais no tempo, podemos ver que o símbolo resgatado pelo CTC são os portais descritos no mundo antigo como anéis das fadas ou “fairy ring”, clareira das bruxas e assim por diante. Era dito que esses lugares possuíam uma vibração mais tênue entre os mundos, sendo capaz de transportar aqueles que se colocavam ali para os reinos das fadas. Círculos de pedras, círculo de cogumelos e clareiras em florestas eram lugares comuns a serem chamados de pontos feéricos. E eram aos redores desses locais que bruxas costumavam se alocar e/ou se reunir segundo a literatura.


Sobre esse ponto em especial, o autor Nigel Pearson no livro Treading the Mill, discorre muito bem sobre o principal detalhe de bússolas e círculos de bruxaria tradicional. Ao invés de se munir de invocações e chamados, seja de elementos, clãs ou anjos para se criar uma redoma de poder, a bússola faz o caminho inverso, ela transporta a bruxa para o local das fadas e Deuses, motivo pelo qual a ritualística de Cochrane é de dentro para fora como vimos anteriormente.

Então, chagamos ao ponto onde os detalhes importam e fazem toda a diferença para entendermos as muitas ritualísticas atribuídas à bruxaria. Todas as técnicas são válidas, desde que se saiba o porquê de estar fazendo o que está se fazendo. Qual o trabalho que você irá realizar? Se você está convidando alguém para o seu recanto não faz muito sentido estar munido de um tanque de guerra não é mesmo?


A tecnologia é maravilhosa ao nos fornecer todos esses compêndios e técnicas variadas para se operar magia, e ao mesmo tempo um perigo pois o excesso de informação e o pouco tempo para digeri-la pode nos causar indigestão de informação.

Créditos a imagem: spellbound

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