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Ensaios: Sexta-Feira 13

Certa vez, quando, à meia-noite eu lia, débil, extenuado, um livro antigo e singular, sobre doutrinas do passado, meio dormindo – cabeceando – ouvi uns sons trêmulos, tais como se leve, bem de leve, alguém batesse à minha porta. É um visitante”, murmurei, “que bate leve à minha porta. Apenas isso, e nada mais.” – Edgar Allan Poe


Um dia bem enraizado na nossa cultura popular esteve entre nós. A sexta feira 13 está presente em quase todas as culturas mundiais como um dia de azar, onde coisas ruins acontecem com as pessoas. E por mais que tenhamos extenso acesso a informação, alguns pragmatismos continuam a permear nossa realidade de forma a criar alusões aos nossos maiores medos e tabus.


O sobrenatural sempre foi um tópico tratado com cuidado pelas pessoas; lidar com aquilo que pouco ou nada se sabe a respeito causa medo ao ser humano a ponto de este criar histerias, literaturas e arte para tentar explicar o inexplicável.

Antes de entrarmos no tópico onde falaremos o que esta data pode, de fato, ter a ver com a bruxaria vamos entender onde e como tudo começou.


A Bíblia e o Treze


Segundo a tradição bíblica, treze convidados assistiram à Santa Ceia, realizada na quinta-feira Santa, incluindo Jesus e seus 12 apóstolos, um dos quais, Judas, o traiu. O dia seguinte, é claro, foi a sexta-feira santa, o dia da crucificação de Jesus.


Acredita-se que o arranjo de assentos na Ceia tenha causado uma superstição cristã de longa data de que ter treze convidados à mesa era um mau presságio, especificamente, que este corteja a morte.


Embora as associações negativas de sexta-feira sejam mais fracas, alguns sugeriram que elas também têm raízes na tradição cristã: assim como Jesus foi crucificado em uma sexta-feira, também foi dito que a sexta-feira foi o dia em que Eva deu a Adão a fatídica maçã proibida, bem como o dia em que Caim matou seu irmão Abel.


O Clube dos Treze


No final do século XIX, um nova-iorquino chamado Capitão William Fowler procurou remover o estigma duradouro em torno do número 13 e a regra não escrita de não ter 13 convidados em uma mesa de jantar fundando uma sociedade exclusiva chamado Clube dos Treze.


O grupo jantava regularmente no décimo terceiro dia do mês, na sala 13 do Knickerbocker Cottage, um popular barzinho que Fowler possuiu até 1883. Antes de se sentar para um jantar de treze pratos, os membros passavam por baixo de uma escada e uma faixa com a inscrição “Morituri te Salutamus”, latim para “aqueles de nós que estão prestes a morrer o saúdam.”


Quatro ex-presidentes dos EUA, Chester A. Arthur, Grover Cleveland, Benjamin Harrison e Theodore Roosevelt, se juntariam às fileiras do Clube dos Treze uma vez ou outra.


Cultura Popular Moderna


Um marco importante na história da lenda da sexta-feira 13 ocorreu em 1907, com a publicação do romance sexta-feira 13, escrito por Thomas William Lawson. O livro contava a história de um corretor da cidade de Nova York que brinca com superstições sobre a data para criar caos em Wall Street.


O filme de terror Sexta-feira 13, lançado em 1980, apresentou ao mundo um assassino de máscara de hóquei chamado Jason, e talvez seja o exemplo mais conhecido da famosa superstição na história da cultura pop. O filme gerou várias sequências, além de histórias em quadrinhos, novelas, videogames, produtos relacionados e inúmeras fantasias de Halloween.


Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho, sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho; onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram; e as paredes e as colunas são ideias que passaram. – H.P. Lovecraft


E a bruxa o que tem a ver com tudo isso?


Existe toda uma teoria envolvendo Frigga, Freya, Loki, o Sabbath das Feiticeiras e associações que, particularmente, não me fazem muito sentido para se colocar nesse texto pois é cheio de simbolismos ligados muito mais à modernidade do que à feitiçaria que havia no mundo antigo. Ao invés disso, vamos analisar o que, de fato, pode ser associado à bruxaria e ser feito relevante.


A bruxa como uma andarilha dos mundos e uma pessoa que coexiste em ambos os planos, natural e sobrenatural, é influenciada pelos eventos que ocorrem em ambas realidades e faz de tudo o que a cerca, útil. Logo, temos uma data que desperta receio e medo em muitas pessoas pois traz à tona o tema que discorre não só sobre azar, mas também sobre morte. Isso pode parecer uma daquelas análises que explicam tudo através da psicologia, mas na verdade é um raciocínio bem simples.


A bruxaria é a sinfonia da bruxa com o todo, orquestrada em complexas pautas e rítmicas; é uma dança coreografada de forma espetacular onde quem dança e onde se dança estão ligados por finas linhas de prata; sutil, mas existente. Então, o trabalho da bruxa é feito a qualquer hora e lugar, desde que esta esteja em harmonia com o ambiente no qual está inserida.


Necromancia, purificação, invocação e evocação são tópicos comuns a serem abordados nas sextas trezes porque muitos estão em harmonia com isso, estão vibrando e vivendo esses assuntos. A bruxa é o caminho até a encruzilhada e, consequentemente, ela é a própria encruzilhada onde todos esses questionamentos tomam forma e voz, fazendo com que o ser humano aprenda um pouco mais sobre o que é sair da zona de conforto e confrontar o que os deixa desconfortáveis.


"– Estou só brincando, Aaron. Ora, vamos. Como vocês tiveram conhecimento da família Mayfair para começo de conversa? E você se incomoda de me informar o que querem dizer com a palavra “bruxa”?

– A bruxa é uma pessoa que tem o poder de atrair e manipular forças invisíveis – disse Aaron. – Essa é a nossa definição. Ela também cobre feiticeiros e videntes."

– Anne Rice

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