Quando começamos a estudar magia, ouvimos muito cedo a cobrança de disciplina e de comprometimento com a Arte. Como uma cria saturnina eu digo: “Não se comprometa com a Arte. Pelo contrário, comprometa-se contigo mesma.” Esta é a abordagem que vai te levar a aprender magia, para além do puro conhecimento intelectual, que paradoxal e frequentemente serve como armadilha eficaz da soberba e da auto ignorância.
Para criar um laboratório bom para testar esta teoria, eu sugiro que você tenha uma meta em mente. Se você se comprometer com esta meta, você chegará à conclusão que precisará de algum tipo de disciplina para alcançá-la. Seguindo este raciocínio lógico, é fácil concluir que se você pensou em arranjar um emprego e se comprometeu com esta ideia, deve ter chego também à conclusão de que, no mínimo, você vai ter que acordar cedo para ir procurá-lo.
Mas não vamos nos adiantar na magia da coisa toda. Vamos começar com a ideia do compromisso.
A ideia de pacto/compromisso/acordo deve ser objeto de contemplação antes de falarmos qualquer outra coisa sobre magia. Isto porque compromisso é um termo menos “avançado” e mais acessível que magia, certo? Mas você entende isso ou vive isso?
Quando um pacto é firmado, ele dependerá do peso da sua palavra e da constituição do seu caráter. Toda ordem, sociedade, clã ou coven poderia concordar que palavra é algo crucial à qualquer candidato. Se você mente, sua palavra não tem peso. Se você não cumpre o que promete, isso significa que você não procura proteger sua palavra e então revela que tem uma constituição mole, o típico caráter fraco. Se você jura proteger aqueles que está chamando de irmãos e você deliberadamente os coloca em risco, você não tem força de palavra.
Vamos com calma nesta hora: caráter é o resultado de um processo de autoconhecimento, autorreflexão e maturidade. E este processo é um contínuo, algo para a vida toda. Nem sempre nossa sociedade nos deixa espaço ou tempo para que possamos refletir sobre isso, pois o exemplo poucas vezes vem de cima. Força de palavra é um dom de poucos, e anda rara como ouro.
Então tente começar com algo simples: comprometa-se contigo mesma a não prometer o que não tem certeza que pode cumprir. É o simples “não mentir”.
Eu sei, não é fácil. Mas é preferível a franca omissão à palavra falsa. É preferível que se assuma menos sobre os outros e que só se fale o que é necessário para não falar inverdades. Ou ainda, dentro de um conflito, que não se ameace. Que se necessário for, se advirta uma vez e se desafiada, que se cumpra. Você não pode deixar que a promessa furada dos outros defina o seu caráter. É esta firmeza em manter a sua palavra que é a verdadeira definição do seu poder.
Isto em si é uma disciplina para grande elevação mágica, porque é algo que perdura até mesmo na maior das apostasias de qualquer caminho mágico. A Arte não precisa de defesa e só requer o sacrifício de você para você mesma. E neste processo você poderá achar que sim, livros são boas opções para este conhecimento de si, e professores, facilitadores, grupos e comunidades podem ser grandes impulsos para que você possa olhar para dentro do espelho que todos eles são. Forme pactos e alianças com pessoas que têm peso em suas palavras, e não perca tempo com os desonestos. Não esvazie o seu silêncio com eles.
Se sua palavra é assim na terra como no céu, tanto abaixo quanto acima, tão poderosa quanto a dada ao seu pai e sua irmã e igualmente com deus antigo, você pode estar certa que não vai haver instrumento maior.
Palavra é sopro de Criação, é o som, o verbo que encarna. Um sopro e um nó atando sua força no que “assim será” e no “amém”.
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