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À Força

O que se faz à Força, se faz com gosto? Mais que isso, com alma? Entre a abundância e a restrição me encontro, quando o fio da Vontade alimenta o ego nosso de cada dia. Força e Vontade, juntas. Porque se não, olha… perdição e ignorância à vista. E ainda que haja quem goste da perdição e da ignorância elas mesmas, e eu super respeito, queridão e queridoa… ando meio sem Tempo pra isso desde o beijo de Saturno.


Mas de que Vontade com V maiúsculo eu falava mesmo? Tenho aprendido no caminho da Serpente – que às vezes mais parece Caminho de SanTiago (quantos mestres encontramos de surpresa pelas esquinas…) – que o fio da navalha detentor do equilíbrio dos Reis está entre a Essência e o Ego. O que se faz à Força, se faz com gosto? Mais que isso, com alma? Repito para não esquecer, pois se os ouço eles me falam, pensamentos de gavetas remexidas só mesmo em Quarentena.


(Aliás, sobre a Quarentena só digo isso: relaxe o quanto der #emcasa para apreciar a paisagem desse grande Sintoma Humano, e descabelar-se um pouco também porque né, enquanto ajuda-nóis-pu-favô-pelamor-da-deusa a pensar e caminhar caminhos novos que nos tirem dessa convergência de péssimas escolhas bem humanas, resultantes coletivas em última instância, e Fim.


E Recomeço, valha-me Kether em Malkuth: antevejo a Louca rebolando na cara da sociedade, de mãos dadas com um belo Ás de Ouros. Com tanto planeta revolucionário passeando por capricórnio nos últimos tempos… Oxalá que o sol nasça.)


Segue o fio da navalha do equilíbrio, do eixo da vida, entre a Essência e o Ego. E que imagem melhor para o nosso ego arbitrário de cada dia, que quer porque quer o que quer e pronto e acabou? Lembro do leão de boca aberta lá no meu primeiro texto, Ao Diabo. Aqui vem ele novamente: mais um leão solitário que vaga nas montanhas abandonado à sorte da própria selvageria. Sim, senhor, pequei. Pequei porque, perambulando distante da Essência divina que nos habita, a Força de ação no mundo representada pelo leão interior é selvagem, pouco humana, não realiza seu potencial iluminador no mundo. Iluminador das consciências, civilizador pelo amor à harmonia da melodia que toca o Universo desde o início dos tempos.

Figura feminina montada em um leão – Século I d.C.


O Ego distante da Essência, brigando com a Essência, é esse leão abandonado à ilusão da separatividade, que busca incessantemente o alívio da dor da sua solidão através da realização plena e sem controle da sua luxúria, sua gula, sua avareza, sua preguiça, sua ira, seu orgulho e sua inveja. O que pode fazer de nobre, justo e bom essa bela donzela Essência para conquistar o indomável leão? Friccionemos um ao outro na alquimia tântrica entre o Eu-ego e o Todo-essencial. Encantemos o leão com promessas de poderes mágicos, fenômenos mediúnicos e acesso a ordens secretas. Loucura? Talvez não. Tem leão que se impressiona com essas coisas.


Quem é essa bendita Essência? Em um certo ponto da jornada, bastaria dizer que ela é a donzela detentora do caminho. Ela sabe como chegar lá. Ela É o lá, se excluírmos de vez essa nossa pantomima de Tempo e Espaço. Pantomima é um tipo de teatro, busca no Google que juro que vai fazer muito sentido. Minto: vendo daqui de onde vejo fez muito sentido. E daí? Entre o leão e a donzela, vou tratando de aprender bastante diplomacia.


Muitos são os recursos dramáticos que a humanidade tem criado para distrair-se do ineditismo inerente à experiência de ser humano: definições limitantes de Tempo e Espaço estão entre elas. Costumo dizer que, por mais que sejamos reencarnacionistas e acreditemos que a alma vem ao mundo repetidas vezes, é inevitável ser inédito, levar uma existência inédita, ainda que pareça super ordinária. Isso se chama perspectiva, e enriquece a Criação. Ainda que muitos tenham lavado vasilha, ninguém nunca o fez como a Maria. Nada se repete, a água que passa debaixo da ponte… vocês já sabem aonde eu quero chegar.


Ou seja, para onde ir, que caminho escolher, se quem tem as chaves é a Essência? Tá lá nosso leão candidato a Mago no meio da encruzilhada, aguardando qualquer sinal da sua donzela, e esse texto começa a parecer coisa dos Enamorados. Hora de ir terminando.


Essência e ego, ego e essência, valsando a melodia da Força de Vontade que movimenta os nossos dias. Frente aos estímulos rotineiros, encruzilhadas dessa vida, vamos seguindo os caminhos que nos inflamam, mas não só. Busco responder a um fogo que não só queime o desejo, mas também que faça arder a alma. Castitas.


Apaixonar-se é escolher um caminho entre tantos? Ou seria reconhecer o caminho que a Essência indicava desde sempre, para sempre? A integração é feita de almas gêmeas essenciais ou escolhas do Ego desejante, tão impermanentes como as bolhas de sabão? Ou de ambas?


Tocam e dançam, para sempre, essa interminável nona sinfonia: Ego e Essência, a Fera e a Bela. E eu que não sabia que era justo o Ego, fazendo amor com os desejos essenciais da alma, que alimentava toda Força que realiza algo nesse mundo. Bom saber.


Créditos da imagem: “Double -Sided Capital with Female Figure Astride a Lion” (século I d.C.), India, Uttar Pradesh.


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