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O Ritual Menor do Pentagrama



“Compreendido propriamente, é a Pedra dos Sábios e a Medicina dos Metais” – Aleister Crowley


Talvez não exista na tradição esotérica ocidental um ritual mais popular do que o Ritual Menor do Pentagrama (RmP). A razão para isso é bem simples: é um ritual de efeitos fundamentais que serve também como exercício e como esqueleto para outros rituais. Então, achei que seria uma boa ideia conversar um pouco sobre o RmP.


A ampla maioria das pessoas que começa a estudar este ritual aparentemente o entende como um ritual de banimento. Parte dessa ideia vem do seu nome em Inglês: “Lesser Banishing Ritual of the Pentagram”. Não é possível dizer, de forma alguma, que este seja um entendimento errôneo, mas é certamente uma compreensão limitada. Além do efeito do banimento, este ritual também possui efeito de uma poderosa ferramenta de dinâmica de energia e de equilíbrio que quando utilizada ao longo do tempo e com cada vez maior proficiência, torna-se realmente capaz de operar transformações (e se vocês não acreditam em mim, vejam acima o que Crowley comentou sobre o RmP). Apesar disso tudo, veremos como esse ritual é simples e como qualquer um pode experimentá-lo e coloca-lo em uma rotina diária de práticas.


Este ritual foi provavelmente uma inovação da Ordem Hermética da Aurora Dourada em sua manifestação inicial na Inglaterra do final do Século XIX. Acredita-se que as bases para o ritual estavam nos manuscritos cifrados e também nos livros do Cabalista Francês Eliphas Levi. Entretanto, se ele já existia ou se encontra bases em qualquer sociedade mágica ou literatura anterior à Ordem Hermética da Aurora Dourada (OHAD) é objeto de disputa. Para todos os efeitos é sim com a OHAD que temos o primeiro registro dessa prática.A prática deste ritual é parte do currículo da Ordem Externa da Ordem Hermética da Aurora Dourada. A razão é que nenhum membro da Ordem poderá avançar muito sem dominar o dito ritual e sem ter sido exposto aos seus efeitos por um período de tempo razoável. Além disso, por conta do seu efeito de banimento, entende-se que seja uma ferramenta básica, dinâmica e muito versátil. Também é preciso destacar novamente que sua forma ou sua ordenação serve de base para diversos outros rituais. Em outras palavras, aquele que domina esse ritual poderá depois experimentar com seu “formato” e criar operações mágicas novas. Finalmente, é um exercício de várias faculdades mágicas básicas: movimentação de energia, vibração e visualização. Bem, vamos ao ritual em si. De maneira objetiva, ele apresenta quatro partes:


– Abertura: Cruz Cabalística.

– Banimento.

– Invocação dos Arcanjos.

– Fechamento: Cruz Cabalística.


A Cruz Cabalística é realizada para a abertura e para o fechamento. É um sinal da Cruz, de certa maneira, porém é realizado levemente diferente (e guarda significados diferentes também). Esta parte serve, dentre outras coisas, como uma divisora entre o profano e o mágico, pois é uma declaração do operador de onde ele se encontra no universo e de como o próprio universo está contido nele (ou seja, de como nós somos a árvore da vida). Por ser um ato pelo qual o operador ou muda ou firma sua relação com o universo, parece adequado para a abertura e o fechamento, mais ou menos como uma apresentação e como uma afirmação. Além disso, a Cruz Cabalística (que é um ritual por si só) é uma etapa na qual se puxa energia e também na qual se coloca sua energia para girar. Assim, não deve ser subestimada como um mero prelúdio/interlúdio. É uma etapa importantíssima para o ritual em si e um exercício fundamental para a prática mágica em geral.


O próximo passo é o banimento. Basicamente, trata-se de banir o elemento Terra. A base para isso está na Cabala, que compreende que o elemento Terra é a junção dos demais. Assim, banir Terra é banir todos os outros elementos. É algo bem simples realmente. Na figura abaixo, explico como isso deve ser feito.


Segue-se então a invocação dos Arcanjos, na qual os arcanjos são convocados em seus quadrantes próprios de acordo com as atribuições elementais da tradição. Aqui, o que estava vazio (após ser banido) é preenchido com o elemento puro (representado pelo Arcanjo de cada quadrante). É a parte do equilíbrio em si.


Finalmente, é feito o encerramento ou fechamento, novamente com a Cruz Cabalística.


Antes de dar o passo-a-passo, é interessante destacar que há pequenas variações deste ritual dentro da tradição. Portanto, não se espantem caso encontrem em livros ou em instruções detalhes distintos dos que eu aqui descrevo.


O ritual deverá seguir os seguintes passos:


1. Virado para o leste, visualize uma luz branca forte e brilhante acima de sua cabeça. Visualize raios dessa luz banhando sua cabeça, toque a testa com os dedos de uma mão ou com uma adaga e vibre: ATEH!

Nota: Não é fácil definir “vibre” ou “vibração”. Vibrar é algo que deve ser experimentado e treinado. De maneira geral, a ideia é visualizar o nome a ser vibrado, inspirar esse nome, sentir o nome ir preenchendo o seu corpo. Quando esse nome chegar aos pés, deixe-o subir, encontrando seu caminho para sair. Solte o nome junto com esse ar. Isso deve ser feito, preferencialmente, com vigor e diz-se que um sinal de “sucesso” é quando ficamos exauridos após a vibração.

2. Visualize essa luminosidade descendo pelo seu corpo até atingir os pés. Toque suas genitais e vibre: MALKUTH!

3. Agora a luminosidade deve subir pela mesma linha que desceu e quando chegar na altura do peito, se dirigir até o ombro direito. Vibre: VE GEBURAH!

4. Do ombro direito, essa luz segue em linha reta até o ombro esquerdo. Chegando lá, vibre: VE GEDULAH!

5. Junte as mãos na altura do plexo solar e imagina a luz irradiando de lá, do centro da cruz e vibre: LE-OLAHM, AMEM!

6. Visualize YOD HEH VAV HEH, de preferência em Hebraico (achar esses nomes em Hebraico é fácil na literatura, mas eu coloco uma figura mais abaixo que apresenta todos os nomes do ritual em Hebraico), na cor amarela (caso seja difícil visualizar as diferentes cores, ignore-as num primeiro momento e visualize todos os nomes em cor branca). Respire e inspire as letras, deixe-as atingir seus pés. Trace um pentagrama de banimento de Terra. Com o Sinal do Entrante, atinja o Pentagrama no seu centro e vibre: YOD HEH VAV HEH (pode ser assim mesmo, vibrando letra a letra). Sinta e veja sua voz ecoando até os confins do universo e inflamando o Pentagrama. Faça o Sinal do Silêncio.

Nota: O sinal do Silêncio é o Sinal de Harpócrates. Coloque o dedo indicador direito sobre os lábios, como se realmente pedisse silêncio.

7. Vire para o Sul, repita o mesmo com ADONAI em vermelho. É importante também virar para os quadrantes (ou ir até os quadrantes, caso tenha espaço) mantendo o braço esticado e traçando um círculo mágico (que deverá ser visualizado, por exemplo, como uma linha brilhante de cor branca).

8. No Oeste, repita o mesmo com o nome EHEIEH em azul.

9. Finalmente, no Norte, repita o mesmo com AGLA em verde (Sugere-se que este nome seja vibrado de maneira que cada letra produza seu som).

10. Volte ao Leste e estique os braços em forma de cruz.

11. Fale e vibre os nomes dos Arcanjos, visualizando-os (Raphael, cabeça e corpo de homem e roupas amarelas, segurando uma espada; Gabriel, cabeça de águia e corpo de homem e roupas azuis, segurando uma taça; Michael, cabeça de Leão e corpo de homem, roupas vermelhas e segurando uma baqueta; Auriel ou Uriel, cabeça de touro e corpo de homem, segurando um pantáculo e de roupas verdes): Diante de min, RAPHAEL, atrás de mim, GABRIEL, a minha direita, MICHAEL(geralmente pronunciado MIKAEL) e a minha esquerda, AURIEL(ou URIEL).

12. Visualize os Pentagramas em chamas e diga: Pois ao meu redor, flamejam os pentagramas!

13. Visualize uma estrela de seis pontas sobre você e outra logo abaixo de você e diga: e acima e abaixo de mim, na coluna do meio, fica a estrela de seis pontas.

14. Repita a Cruz Cabalística e estará encerrado.


O ritual em si não é complexo, mas requer familiaridade e atenção. As visualizações devem ser feitas com esmero e os arcanjos devem ser depois acrescidos de complexidade com mais e mais símbolos associados aos elementos (há diversos livros que apresentam essas relações).


Tradicionalmente sugere-se que o ritual seja feito ao menos uma vez ao dia. É difícil definir o que se deve sentir ao se ter sucesso no ritual. Os testemunhos são variados. Já ouvi pessoas dizendo que o ritual as “aterrou”. Outras relatam uma sensação de limpeza ou de calmaria. Eu diria que enquanto o ritual não estiver nos fazendo mal, estamos num bom caminho. Aliás, nunca ouvi relatos deste ritual fazer mal a ninguém, então, é uma prática extremamente tranquila de ser realizada.


Finalmente: repetir esse ritual por pura mecânica não é ideal. O ritual deve ser realizado com vontade e com energia. O operador colherá os frutos da prática apenas se, de fato, viver o ritual. Ele deve ser sentido e experimentado. Seguir os passos deste ritual apenas por seguir se revelará apenas como uma grande perda de tempo.


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