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Mulheres e Tempestades


Mulheres não nascem, são forjadas pelas tempestades que sobrevivem

Estamos aqui…

Estamos aqui, neste instante que esperou a sua vez desde o início dos tempos

Estamos aqui, o caminho também é um lugar.

Em tudo desejamos o ideal.


A qualidade utópica de nossos sonhos guarda a lembrança do impulso da busca do ideal humano. Deusas e deuses em panteões, criados à imagem e semelhança da natureza, para nos lembrar que existe um estado de pureza e simplicidade ideais que podemos até não alcançar, mas que devemos almejar.


Em geral, grandes tradições de diferentes civilizações associam à divindade a tríade sagrada, o triangulo superior de onde emana toda a criação. No vértice superior, o Uno, e na base a dualidade. A raiz da realidade no plano das ideias são duas, as polaridades, que não foram criadas como opostas, mas para criar harmonia pela síntese. A oposição que requer a síntese não é o conflito apaziguado, mas o exercício de geração criativa que viemos aprender enquanto co-criadores da realidade. A conjugação dos opostos produz beleza, a harmonia por oposição no mundo da manifestação é também atributo da criação.


Ao olharmos para fora, medimos o mundo em termos de justo ou injusto, e usamos réguas elevadas para medir pecados e nos segregar. Mas estas réguas são apenas o arremedo do religioso conflito primordial. uma forma de nos separarmos em bons e maus, merecedores de paraíso ou inferno independentemente da crença alheia. Encontramos esse preconceito na raiz do personalismo, onde achar que aquilo que diz respeito a si mesmo é superior ao que diz respeito aos outros. Um comportamento originário do egocentrismo. Creio que nunca vimos um egoísmo tão publicamente assumido como objetivo de vida, defendido às últimas consequências, como culto à personalidade e palavras de ordem. Preconceitos antes não assumidos publicamente hoje pululam em nossas comunicações, bem como também reflexos de ideais distorcidos, alimentados por medo e orientados à submissão de alguns e à tirania de outros.


Qualquer ideal único tomado para guiar indivíduos tão diferentes seria não mais do que um culto despótico e um abuso de poder. A ideia moderna que homens e mulheres deveriam ter ideais iguais denuncia uma falta de ambição e criatividade, que nos despersonaliza e nos desautoriza a sentir e pensar com clareza. As polaridades na base do triangulo da tríade divina existem para criar harmonia pela síntese, onde os extremos se tocam e todas as verdades são meias verdades até serem reconciliadas.


Se não se nasce mulher, mas torna- se, não podemos desconsiderar que há uma via de mão dupla neste processo. O tornar-se mulher, além de vestir as âncoras sociais de comportamento e cumprimento do que uma mulher deve ser, também é empreender um retorno ao poderes que as foram negados. Reconciliando e retomando os pedaços vendidos no próprio caminho em busca do seu lugar ao sol. Mulheres acreditam em si mesmas, mesmo que não saibam. Recuso a ideia de uma inferioridade tradicional ensinada e apreendida. Mesmo a que se considera a mais “frágil” empreende a criação de filhos e rotinas heroicas. Essas almas sabem exatamente quem são e o que querem da vida. Elas deixam sua voz interior guiar seu caminho. É assim que elas estão sempre no caminho certo, e isto inclui, às vezes, mudar completamente o rumo.


No campo de batalha criado pela polarização, se tivéssemos que lutar até a morte por algo, lutaríamos pelo que somos, em essência, defendendo a expressão mais livre e pura de nossas almas, e não pela expressão dos nossos medos e julgamentos. Este é o segredo das serpentes que dançam no caduceu de Mercúrio.


Deusas e heroínas são idealizações a serem buscadas enquanto indivíduos. Buscamos no exercício destes ideais deíficos a força e a sabedoria necessárias para enfrentar as dificuldades da vida até nos tornarmos seus dignos representantes na terra.


No teatro grego as representações de deuses e homens e suas sociedades, em seus dramas e comédias, evocam a identidade da persona dionisíaca como a sua própria personalidade, sua própria parcela divina como corresponsável pelo seu destino, enquanto chama à responsabilidade diante a imaterialidade da peça. Enquanto você está no palco não deve se confundir com a máscara, a máscara é a sua guia de relação com a peça. Ao manter em mente que a sua essência é quem você é, é possível manejar a máscara na peça do teatro que você desempenha agora. O indivíduo é responsável pela criação do destino de toda a realidade, mas ainda deve se lembrar que morrerá, e seu papel será outro, em outros palcos.


A pluralidade de atributos que a natureza te concedeu neste personagem, não é nem boa nem ruim. Ela é o que é. Ver o que a vida te propõe, e caminhar com ela, é abraçar a possibilidade de experimentar o mistério que você é. Todos temos atributos celestes, e nossa jornada é uma espiral ascendente que representa o aprendizado que todas as heroínas foram tão humanas quando nós, que superaram o impossível ensinando a si mesmas, elevando se a cima do banal, transcendendo o limites do centro, do subterrâneo, tornando-se a peça que uniu na vitória de suas jornadas os dons divinos.


Este texto será uma série de reflexão sobre atributos divinos femininos e como seu serviço além da adoração comum e ordinária, pode alcançar o tornar se. Esta série continua.

Imagem: pixabay



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