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Midsommar – O Mal Não Espera a Noite

Atualizado: 8 de fev. de 2022

***Alerta de spoiler*** – Este artigo contém spoilers –


Midsommar (no Brasil com o terrível subtítulo de O Mal Não Espera a Noite) é o novo filme do aclamado cineasta Ari Aster, responsável pelo sucesso de Hereditário (2018), e foi com este filme que ele acabou por criar uma grande expectativa no meio das tradições underground.


O filme começa causando alguma irritação com Dani (Florence Pugh), uma garota bem grudenta e insegura, mas depois da perda da família dela fica bem pior. O namorado, Christian (Jack Reynor) até podia entrar pra fila de canonização se não fosse ele mesmo um total picolé de xuxu. Pelo menos o filme decola rápido para a viagem que o casal faz para a Suécia com alguns amigos, a convite do colega Pelle (Vilhelm Blomgren).


Lá eles presenciariam uma celebração tradicional de meio de verão, e é aqui que realmente se elevavam as minhas expectativas. Ok, talvez com um grãozinho de sal, afinal, trata-se de um filme de terror.


E a coisa começa bem louca. Bem. Louca. Mesmo.


Antes mesmo de chegar ao vilarejo, eles já tomam uns cogumelos mágicos. Depois que chegam a Hårga aqui e ali eles também tomam um “chá” que está misturado com alguma substância alucinógena. Pontos para o diretor até aqui. Ele realmente retratou bem algumas das alucinações comuns quando as pessoas estão sob a influência de cogumelos mágicos. Sobre o uso, também está corretíssimo de um ponto de vista histórico. O vestuário e o cenário estão impecáveis!


Há um pecaminoso excesso na forma em que Ari Aster retratou a cultura de Hårga. Absolutamente tudo o que o povo faz no vilarejo é absurdamente ensaiado e ritualizado. Embora eu saiba que escandinavos gostem bastante de cerimônias, nem de longe eles são tão chatos. Pelo contrário, eles eram e ainda são bastante pragmáticos. O próprio formato ficou “romanizado” demais, mas creio que esta tenha sido a contaminação mais usual até entre os neo-pagãos atuais. Tudo fica com cara de cerimônia “eclesiástica/maçônica”, mas se formos ver bem, nem a Wicca, a “bruxaria moderna” escapa deste modelo quadrilateral ultra cerimonioso. Então nem dá para falar do cineasta, não é?

Talvez essa excessiva ritualização se deva por juntar a pesquisa de base com uma consultoria de um músico sueco. Ele ainda ressaltou em entrevista que “Esta não é uma história sueca. Isto é folclore”, ao mesmo tempo em que faz questão de dizer que os rituais representados no filme têm ao menos “alguma base” em fatos históricos.


Nesta pegada eu pude reconhecer o primeiro, o Ättastup, que é o salto do penhasco. Quando a escassez rolava em sociedades escandinavas, não era incomum que eles empurrassem os velhos do alto de algum pico. Interessante é notar que esta prática não era tão incomum quanto se pensa, e a gente pode encontrar algo similar pelo menos no Japão antigo.

Outros rituais são identificáveis no decorrer do filme, como a forma em que a rainha de maio é escolhida na dança ao redor do maypole e a benção dos campos. Contudo, a cena de sexo ritual foi uma das mais idiotas e forçadas que já vi – a menos que você curta um voyeurismo bem embaraçoso com duas pessoas que não eram o rei e nem a rainha de maio.


Também o sacrifício em estilo “blood eagle”, foi descabido e desnecessário porque a ofensa da vítima era pequena e até esperada. Dentre as muitas modalidades de “sacrifício” apresentadas a pior de todas foi a do urso, que recebe uma morte bem imbecil, algo impensável naquela cultura, tendo em vista que no passado este fosse um animal sagrado e que abatê-lo constituía em uma prova de masculinidade e maturidade. Faltou a prova dos rapazes (voltando à falha na esperada hierogamia).


No exagero dá-se a certeza que o diretor forçou centenas de elementos de vários cultos independentes para caber no filme. O que é interessante para quem quer brincar de identificar de onde vieram as ideias para o filme. Para aqueles que entendem um bocadinho de respeito ao contexto antropológico, este não poderia nem ser um filme de terror e talvez entrasse naquela categoria “gore” só por conta da forma em que foram retratados os corpos das vítimas.

No mais, é só O Homem de Palha (1973) re-ambientado. Nada de novo sob o sol do fresco verão sueco.


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