O texto de hoje pode parecer de início deslocado. Mas não é.
Carnaval de 2014. Nessa época, eu trabalhava em uma empresa responsável por alguns sistemas relacionados ao desfile de escolas de samba, tanto Rio quanto São Paulo. Era o meu sexto ano indo para São Paulo trabalhar no carnaval. Processo que me fazia embarcar para SP normalmente na terça-feira antes do carnaval e só voltar na outra terça à noite. Já estava acostumado ao processo e o fazia deveras bem. Foi o meu último ano na empresa, fechando um processo de seis eventos de carnaval seguidos sem maiores problemas durante o mesmo.
Quando cheguei na terça-feira, no meio do carnaval por assim dizer, peguei um táxi no aeroporto para ir para casa. E me deparei com uma situação muito caótica: a cidade parecia ter sido utilizada para inspiração do jogo “The Last of Us“! As ruas mais largas, como a Presidente vargas, que possuem normalmente 4 pistas, só podiam ser trafegadas pelas duas pistas centrais, devido a quantidade de lixo. Para que o leitor que não mora aqui entenda o que aconteceu, vou dar uma breve explicação.
Fiquei atordoado no primeiro momento. Era um tanto quanto surreal a visão do que uma semana de diferença tinha feito com a cidade em si. Além do lixo acumulado, o mal cheiro era insuportável. A cidade como um todo estava fedendo. Falo das pistas principais pelo impacto e pela enorme quantidade de lixo que vi. Porém, tal cenário se repetiu em diversas ruas e avenidas.
Ao chegar em casa, tentei entender um pouco do que estava acontecendo. Devido ao calor da cidade “maravilhosa”, os garis estavam reivindicando um aumento salarial e uma mudança no uniforme (que era, na época, um macacão de roupa grossa, pesada e laranja; confesso que não sei como está agora). O prefeito em gestão na época, o senhor Eduardo Paes, não acatou as reivindicações, e os garis ameaçaram entrar de greve no período do carnaval. O prefeito então achou que era blefe, dado que esta seria a época de maior trabalho e turismo na cidade, e pagou para ver. Eis o resultado.
Mas o que tudo isso tem a ver com espiritualidade ou com algo do tipo?
Simples. Quando você não se valoriza, não se preocupa com o lixo que não está sendo retirado. Muitas vezes, você pode até caminhar pelo meio do lixo que não se sentirá incomodado (como aconteceu com os foliões neste carnaval). Além disso, você corre o risco de entrar no espiral de processo que acontece com algumas pessoas: eu vou precisar disso um dia. Não conseguimos encarar determinadas coisas como lixo, mas como “algo que poderá me ser útil no futuro”. O que nunca acontece. Acumuladores existem não apenas em programas de televisão.
Quando nos referimos ao termo lixo, podemos incluir nisso aqui tudo que você acha que não lhe faça bem, e não apenas o sentido material da palavra. Sentimentos não enriquecedores para o ser-humano poderiam ser tratado como lixo. E novamente, o processo de acumuladores entra em ação: cada novo lixo/sentimento que não é liberado em seu devido tempo aumenta a sua capacidade de aceitação de mais coisas ruins.
Para aqueles que estão de fora, a situação será tão caótica que a repulsa fará com que se afastem. E para isto, há apenas uma solução: fazer um esforço hercúleo e retirar todo o seu lixo.
Algumas ordens possuem alguns tipos de exercícios onde o iniciante precisa retirar de sua vida tudo aquilo que não lhe é realmente útil. É um processo custo e muitas vezes doloroso. Porém, vindo de alguém que já passou por um processo assim, posso afirmar que a dor é momentânea. A sensação de perda é substituída posteriormente por leveza. E nos sentimos livres para encararmos novas possibilidades.
Encare a si mesmo e se destitua de tudo que não lhe faz bem. Jogue fora o que lhe faz mal. Abra-se para novos caminhos. E o melhor: permita-se ser feliz. Porque todos merecemos isso.
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