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Foto do escritorEduardo Regis

Eu sou Deus

Eu sou Deus. Verdade. Não, não vi a criação. Não sei todos os mistérios. Não faço ideia de quase nada, na verdade. Controlo menos ainda. Entretanto, sou Deus, com direito a diploma de Deus que fiz pra mim mesmo.


Foi outro dia que me graduei Deus, com juramento de Deus e tudo:


“Eu juro ser Deus. Não juro ser todo poderoso e nem bondoso. Não prometo também atender a prece alguma. Quero só curtir ser Deus e tentar fazer meu melhor, que pode ser bem medíocre de vez em quando. Tudo bem, eu (Deus) vou me perdoar”.


Você que tá lendo já deve estar pensando em ligar pro manicômio ou em me adicionar no Facebook (adiciona sim) pra me recomendar aquele tarja preta esperto, mas eu só uso drogas que me deixem doidão de verdade e não que me desdeixam doidão e me fazem ficar torto que nem Dom Lázaro (os mais novos terão que recorrer ao Google pra pegar a referência). Não adianta vir com Sulpan e tranquilizantes.


Como Deus descobri que tenho o incrível poder de fazer o quê eu quiser e não me explicar pra ninguém. Nem sempre vai dar certo. Muitas vezes vou me enganar. Merdas? Já fiz muitas e vou continuar a fazer. Talvez ainda mais agora que sou o Rei do Panteão de mim mesmo. Sou meu poder executivo, legislativo e judiciário. Um Megazord de Montesquieu cuja mente gira mais rápido do que a Terra no espaço e que frequentemente se embanana nas apelações pra mim mesmo dos processos, autos e despachos auto-divinos.


Ser Deus tem suas vantagens: por exemplo, hoje mesmo decidi que não iria comer salada e fui direto pro sanduíche de barriga de porco. Quem vai dizer que eu não posso? Depois, trabalhei um pouco. Pra pagar conta ainda não inventaram milagre, mas pra fazer milagre já inventaram um jeito e eu decidi que meu jeito é fazendo assim o que eu tiver afim, na minha vibe. Não curtiu? Me processe. Vou julgar-me culpado de ser eu mesmo.


O mais incrível de ser Deus é que você não manda em nada, muito mal em você mesmo de verdade. Aí esse lance da divindade te coloca numa perspectiva interessante. Primeiro, se você é Deus, que se danem os outros. Afinal, eles também são Deuses e vão se virar bem. Incrível! Segundo, bem. Quem se importa? O mais relevante é deixar todo o resto pra lá. Já viu Deus baixar na Terra pra resolver alguma coisa?


Falando em Terra, que é quase toda água (já nos ensinou Guilherme Arantes), lembrei-me dos oceanos. No fundo do mar, adivinhem só, moram uns peixinhos que só conhecem aquele cenário escuro e arenoso. Eles são Deuses também. Ficam lá, na deles. Às vezes se devoram, mas e daí? Eles se entendem desse jeito. Deixa eles se endeusando entre borbulhas de amor (essa é do Fagner, salvo engano). Já eu, não devoro ninguém. Ainda bem, senão eu seria também um psicopata. Eu não curto um Deus psicopata. Muito melhor o tipo de Deus que eu sou: do tipo que tá na minha e se não mexer comigo tamo na paz do Senhor.


Sem tempo pra ficar por aí arranjando treta, irmão. Dá um trabalho do cacete ser Deus em tempo integral e ter que tomar minhas decisões, lavar minhas cuecas e me responsabilizar pelos meus atos.

Estou oferecendo cursos de como ser Deus. Aceito inscrições pelo Facebook. Pré-requisitos: estar vivo; não ser babaca (poder ser, pode, mas eu não sou obrigado a aturar); e acreditar em Deus. Agora, se não quiser não precisa fazer curso. Acorda um dia, lava a cara remelenta, se olha no espelho e fala “bloody Mary” três vezes na frente do espelho. Ah, não. Isso é pra outra coisa. Desculpe, é confuso ser Deus.


Recapitulando: acorda um dia, lava a cara e fala na frente do espelho: sou Deus, porra!

Boa sorte pra você na sua deificação. Te vejo no encontro dos Deuses, essa coisa barulhenta e gostosa que chamam de vida.


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