Veja, botaram-me nesta vida sem pedir minha opinião. Já fiquei sabendo de antemão, inclusive, que também vão me tirar sem perguntar nada. Nem mesmo perguntaram-me se gostaria de morrer ou dormindo ou fazendo base jumping. Pensando bem, por favor, desconsiderem a ideia do base jumping. Prefiro morrer dormindo mesmo, não que alguém se importe, aparentemente.
Eu fico pensando também quem teria decidido que eu viria do jeito que vim. Talvez eu tivesse preferido vir como um pelicano para voar pelos mares, comendo peixe que é cheio de ácidos graxos importantes. Seria uma boa economia, visto a grana forte que gasto no restaurante Japonês. Talvez eu pudesse ter vindo ou como um saci ou uma mula-sem-cabeça, essas coisas que não existem. Parece-me mais fácil viver sem existir. Morrer sem existir também deve ser menos traumático.
Por exemplo, aqueles casarões antigos de mil setecentos e qualquer coisa. Eu podia bem ser um daqueles. Altos, imponentes, velhos e intocáveis, graças ao IPHAN. Eu queria que o IPHAN me declarasse como um patrimônio histórico de alguma coisa e poder andar por aí com uma placa na cabeça, despertando olhares maravilhados pelas ruas.
“Lá vai ele. Tombado pelo IPHAN. Um testamento da genialidade do pool genético brasileiro”
Quando o ceifador sinistro chegasse eu olharia para ele e diria:“Aha! Otário! Eu sou parte da herança material e imaterial do meu país! Você não pode me levar!”
Provavelmente não daria certo, mas quem poderia me culpar por tentar? Bem, nada disso importa muito, provavelmente vão acabar com o IPHAN e com o meus sonhos.
Também tem outra coisa: desde que nasci estou tentando entender o que diabos eu tenho que fazer por aqui. Sim, não me deram nem uma pista sobre isso. NADA. Nem um “o negócio é ser irritante”. Eu tenho talento pra isso. Seria moleza. Enfim, difícil achar a razão de estar nessa vida. Muito difícil. Por isso, admiro as pessoas que encontraram seu propósito. Devem ser muito inteligentes. Tipo aquele deputado que era ator pornô. Aquele que disse que o “O negocio é comer cu e buceta”. Que clareza. Que propósito. Um Buda Brasileiro.
Já que chegamos no Buda, vale contar que quando eu era pequeno achei que ia encontrar minhas respostas na espiritualidade. Logo me frustrei. Não entendi até hoje nem por qual razão Deus teria mandado seu filho pra morrer pela gente. Eu, certamente, não pedi por nada disso. Por mim, ele tinha ficado de boa no deserto bebendo vinho e curtindo a galera. A Bíblia seria bem mais longa, é verdade, mas podiam dividir em tomos, que nem o Senhor dos Anéis. Daria até uma trilogia no cinema. Podia render bilhões. Ei, eu até iria assistir. Talvez o problema dessa coisa toda seja a falta uma boa pesquisa de mercado. O Vaticano devia contratar o Kevin Feige.
Para fechar, queria dividir outra coisa que me incomoda e me confunde profundamente: essa mania de gente de achar que tem que dar bom dia pros outros na rua. Eu não conheço a pessoa, não quero dar bom dia pra ela. Vai que eu esbarro com um serial killer. Dou bom dia pra ele. O bom dia pega, imagina. Palavra falada tem poder. Já me deu até nervoso. O dia bom pro serial killer é matar uns cinco desavisados e cozinhar seus corpos até os ossos soltarem. Nossa. Agora imagina mais ainda se ele resolve começar esse dia incrível comigo, que fui simpático. É extremamente perigoso e desagradável dar bom dia pras pessoas na rua. Não façam isso, crianças.
Bem, eu menti. Não fechei no parágrafo anterior. Vou fechar agora e para isso não vou desejar nada de bom pra você. Estudos revelam que quarenta por cento dos leitores desse site são maníacos em potencial. Embora não te deseje nada de bom, serei cara de pau e vou te pedir um favor: se você entender qualquer uma dessas coisas discutidas aí em cima, me conta. Beijos.
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