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Como nasce a sua magia?

Atualizado: 8 de fev. de 2022

É muito mais fácil arder de ódio do que domá-lo para ganhar clareza. Para algumas pessoas isso vem com relativa facilidade, mas para um grande número de pessoas, esta é uma tarefa que exige uma grande disciplina. Eu me encaixo neste segundo grupo.


Paz de espírito era um sentimento que eu desconhecia, e exceto por aqueles momentos de contemplação, eu não sabia o que significava ter minha alma preenchida por um sentimento duradouro de bem aventurança, daqueles que se tornam uma boa linha de base para encarar qualquer obstáculo com mais interesse do que preconceito ou pré-julgamento.


Levou algum tempo para perceber o quanto eu cedia poder às pequenas vicissitudes da vida e àquelas pessoas que não estavam na mesma sintonia. Estas situações e pessoas ganhavam espaço para envenenar meu dia, e meus sentimentos e pensamentos circulavam nestes entornos sombrios de desamor. Eu permitia que estas circunstâncias transformassem dias perfeitos em torturas emocionais, de raios e trovões. Tempo e disciplina foram fatores muito fortes nesta jornada, grandemente facilitada por meus espelhos e preceptores espirituais que me ampararam com a doçura e o rigor na medida certa. Seus ensinamentos retiraram os confortáveis véus para que eu me descobrisse em meus talentos, minha trilha à realização pessoal e minhas vulnerabilidades.

Parar de “vazar” poder para poder se encher

Sempre tive um espírito um bocado questionador e inquieto. Também creio que muitas pessoas que se aventuram nos reinos mágicos tenham um perfil similar, mas esta pode ser uma projeção esperançosa. Fato de verdade é que nesta onda mágica tem havido pouco espaço ao espiritual: ao cuidado integral do indivíduo.


Talvez seja irresponsável a forma em que compartilhamos fórmulas de resolução rápida de problemas sem pensarmos, primeiro, naquele humaninho que está chegando à magia cheio de piras. Ninguém quer fazer o trabalho árduo de transformação e meia dúzias de chavões acabam construindo mais uma camada de hipocrisia. Pegam-se atalhos nas grandes obras das ordens com máscaras que se derreteriam sob um olhar mais atento. Grandes mestres engolidores de calmantes e soníferos, bufões que só estão lá pela rasgação de seda e putaria. Estrelas da lacração, das opiniões (nunca) humildes e bullies que só agigantam numa sociedade que louva o conflito.


Passa batido. Ninguém parece ser importar com o fato de que toda magia nasce dentro da gente, mas que sem equilíbrio interno, toda magia já nasce “torta”. Ela nasce “torta” quando ela é irrefletida, desesperada, quente e impulsiva. Ela nasce “torta” sem a compreensão de quem somos e de como estamos criando vínculos energéticos uns com os outros. Ela nasce “torta” quando ela é banalizada e é constantemente desperdiçada. Ela nasce “torta” quando não enxergamos sequer o nosso próprio espelho, e quando contamos com ela para remendarmos pedaços de nossas vidas estilhaçadas. Ela nasce “torta” quando ela força situações que estão ali para serem analisadas, para nos fazer crescer, progredir e até mudar de curso. A magia nasce da necessidade, sim, mas não da frivolidade.


É muito fácil recorrer ao feitiço, às fórmulas mágicas e conjurações, sistemas DIY quadradinhos, do que encarar nossa ignorância e a nossa hipocrisia. Isso exige honestidade e coragem. E dói. Mesmo.


Eu percebo os visionários tentando criar um mundo melhor. Comunidades mágicas. Coletivos. Irmandades. Ordens. Covens. Clãs. Mas como poderíamos criar um mundo melhor sem olharmos para como nos interagindo em nosso meio? Como estamos nos representando? Como estamos preparando o caminho para aqueles que estão chegando? Quando estaremos prontos para sair do parquinho? Quantos estão prontos para atravessar o espelho?

Imagem: Claude Gillot, 18th century / sciencesource

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