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As cartas falam ao coração das mulheres

Saudações, crianças!


O titio aqui tirou o primeiro trimestre do ano para fazer um balanço do que trouxe a vocês até agora e, diante desta pausa forçada em tempos de quarentena, decidiu iniciar as crônicas de 2020 fazendo um apelo aos seus leitores. Ou melhor, às suas leitoras: retomem a arte da cartomancia para si, pois as cartas falam e sempre falaram ao coração das mulheres.


Não se ofendam, queridos leitores! Longe de mim querer afastá-los do universo mágico da cartomancia. Contudo, vocês decerto concordarão que um homem só consegue ser verdadeiramente um cartomante se conseguir encontrar dentro de si o seu lado feminino e se puder incorporá-lo (ainda que só um pouquinho) ao seu eu masculino. Mas, atenção! Refiro-me aos cartomantes, e não aos “tarosofistas” cheios de si!


Pensando bem, talvez minha preocupação com meus leitores não tenha razão de ser. Afinal, “machos alfa” não leem estas minhas crônicas. Afinal, para eles, a cartomancia que eu ensino é coisa para mulheres e… maricas. Que seja!


É melhor mesmo pôr as cartas na mesa e definir de uma vez por todas a quem eu quero me dirigir. Os sabichões iniciáticos não me interessam. A minha cartomancia é aquela da cozinha, não dos templos e das lojas esotéricas. É a cartomancia com o perfume do café coado na hora e que não tem vergonha de se ocupar dos pequenos gostos e desgostos da vida comum, daquela “vidinha” que é como o café: doce, amarga, mas gostosa. Quem quiser fugir disso, fique à vontade para interromper a leitura e continuar a buscar qualquer fino licor metafísico que permita escapar da realidade como ela é.


As cartas falam de amores e desamores. Dos filhos que se teve e dos que não se teve. Do que se quer, do que não se quer, do que se quis e não se pôde ter. Do pão de cada dia, dos mexericos da vizinha, das amizades e das intrigas.


Você poderá estar pensando que o Dr. Facilier está muito filosófico… Nem tanto. Ou talvez sim, pois as cartas ensinam uma filosofia muito concreta, ensinando a olhar para a vida. Você costuma olhar para a vida? Contemplá-la? Degustá-la? As velhas cartomantes costumavam ensinar apenas os rudimentos da cartomancia às suas pupilas. Aprendido o básico, sempre diziam: agora, você aprenderá com o baralho, pois as cartas ensinam.


Será que as mães, avós e tias assim falavam somente como figura de linguagem? Definitivamente não!

Na minha experiência como professor de cartomancia, duas coisas me chamam muito a atenção. A primeira delas é a dificuldade de os estudantes compreenderem os planos da vida aos quais as cartas falam. A outra, é a facilidade com a qual as mulheres superam esse primeiro obstáculo na aprendizagem da arte de ler as cartas.


A primeiríssima coisa que uma cartomante deverá fazer antes mesmo de deitar as cartas é saber em qual plano da vida se encaixa o problema trazido pelo consulente. O que o preocupa? O que o angustia? São questões materiais, relativas ao trabalho, ao dinheiro ou à saúde? São seus afetos e desafetos, suas mágoas e inseguranças? Talvez seus planos para a vida ou as suas ideias a respeito de uma determinada situação? Ou será a busca de uma nova filosofia de vida ou a solução para problemas genericamente denominados de “espirituais”? Aí estão os naipes do baralho, exatamente nesta sequência: Ouros, Copas, Espadas e Paus.


A propósito, o naipe de Copas é o menos compreendido, ainda que seja onipresente em quase todas as leituras. É o universo misterioso das emoções, um mundo estranho e assustador para o qual a nossa sociedade virou as costas… Menino não chora. Gente bacana não fala de sentimentos. O intelecto governa o homem civilizado. Mas todos, absolutamente todos são prisioneiros em maior ou menor grau do naipe de Copas. Afinal, aquilo que não se quer ver, vai se agigantando e virando um fantasma a nos assombrar nos momentos de solidão, nos nossos pesadelos e, pior, naqueles momentos em que o tal intelecto se evapora e somos tomados por uma borrasca emocional que nos leva a comportamentos inimagináveis.


Ainda que a imaturidade emocional seja um mal que nos assola a todos e continuará a nos castigar até que realmente encaremos a necessidade de uma educação emocional nos moldes da educação intelectual que tanto prezamos, as mulheres ainda estão à frente dos homens nessa seara. Elas ainda falam de suas dores e de seus amores, ainda se preocupam em discutir as relações (as famosas DRs). Sobretudo, continuam a tentar entender os caminhos do coração.


É ao coração e somente ao coração que as cartas falam. Por isso mesmo, o linguajar rubro negro do baralho encontra ouvidos mais abertos aos seus sussurros no coração feminino. Na próxima crônica, trarei a vocês alguns métodos bem femininos de se tirar as cartas, muito mais antigos do que o método simbólico surgido nos salões iniciáticos e misóginos da velha Europa.


Aguardem!


Mas antes de me despedir de vocês, vou propor um exercício muito importante, mas ao qual eu bem sei que poucos darão atenção: comece a treinar a sua mente a identificar, diante de cada acontecimento, se ele diz respeito ao naipe de Ouros (questões de ordem material), de Copas (questões de ordem afetiva e emocional), de Espadas (questões de ordem mental) ou de Paus (questões de ordem espiritual). É simples, mas bem difícil. É algo que se pode fazer a todo momento, que enriquecerá imensamente a sua leitura das cartas, mas que será inevitavelmente deixado de lado. Afinal, pensar na vida não está na moda…


Deixo, por fim, para que vocês não se queixem de que meu papo foi muito “cabeça”, uma técnica prática, mas não menos reflexiva. Quando estiver diante de alguma dificuldade ou situação que gere incômodo, separe os 4 Ases do baralho e pergunte a qual plano da sua vida você deverá dar mais atenção para solucionar a situação ou passar melhor por ela. Embaralhe, corte, sorteie uma carta e voilà a sua resposta! Posso apostar que, na maioria das vezes, você tirará o Ás de Copas…


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