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São Cipriano seja comigo!

Saudações, crianças!

Já faz um tempinho desde quando lhes ensinei os significados básicos das cartas e o método de consagração do baralho segundo a tradição de São Cipriano. Certamente, vocês já devem estar com seus baralhinhos devidamente anotados e consagrados!


Agora, vamos pôr a mão na massa e aprender a jogar segundo essa tradição ibérica tão desprestigiada nas últimas décadas no Brasil.


Primeiro de tudo, a dica mais importante para vocês se tornarem craques nas cartas de São Cipriano: pratiquem, pratiquem, pratiquem! Joguem para a mãe, para o pai, para o vizinho, para a amiga, para o pessoal do boteco, para o papagaio, o periquito e o cachorro.


Têm medo de errar e por isso querem estudar mais antes de começarem a praticar? Com o perdão da franqueza, vocês nunca serão cartomantes. Não digo que vocês nunca serão bons cartomantes, mas afirmo que vocês jamais serão sequer cartomantes.


Vocês errarão. Muitas vezes. Mas só assim aprenderão. E um segredinho constrangedor que talvez lhes ajude bastante e quase ninguém revela: mesmo quando forem super especialistas em cartomancia, continuarão errando. E muito!


Então, ponham a “viola no saco”, digo, o ego, e mãos à obra. Nada que vocês fazem estará livre de erros. Assim como vocês queimam o arroz, passam café aguado, fazem trapalhada no trânsito, tropeçam ao caminhar e até mesmo se engasgam com a própria saliva, deixem de lado a obsessão de serem perfeitos e, humildemente, passem a exercer uma arte humana como qualquer outra, um misto de acertos e erros. Quanto mais vocês praticarem, menos errarão, mas, ainda assim, falarão algumas besteiras aqui e acolá.


Segunda dica de ouro: fiquem afiados em storytelling. Mas que raios é isso? Simples: a arte de contar histórias. Comecem a criar historinhas nas suas cabeças a partir do nada. Simplesmente as inventem. Ou, então, peguem um álbum de figurinhas e criem uma narrativa. Recortem figurinhas de uma velha revista de fofoca, arranjem-nas aleatoriamente e inventem uma narrativa.


Mas o que tem a ver criar histórias a partir de figurinhas de papel com cartomancia? Tudo. Digo mais: é a mesmíssima coisa! O cartomante nada mais faz do que contar uma historinha ao seu consulente a partir de figurinhas de papel espalhadas ao acaso à sua frente. (pequena pausa para vocês se refazerem da surpresa após terem lido tamanho “desaforo”.)


Até posso imaginar o que vocês estão pensando: “não me venha dizer que imaginar historinhas tem alguma relação com ‘ver’ os significados das cartas na mesa cartomântica! Afinal, a cartomancia é uma arte divinatória! Certo?”


Errado! Imaginação e magia têm tudo a ver, mas isso seria papo para outra crônica… Por ora, peço que confiem no titio e apenas testem!


Esta crônica poderia ser encerrada aqui, pois eu já disse tudo o que queria dizer. Mas, como a maioria de vocês quer tomar como ponto de partida um método predefinido de leitura, vou ensinar dois dentre os mais conhecidos. Mas não deixem que as suas leituras fiquem limitadas a eles. Com um pouquinho mais de prática, permitam-se tirar as cartas livremente, sem métodos. Combinado? Vamos lá então.

– 1º método (cartomancia cruzada propriamente dita):

– Segurando o baralho com a mão direita, faça o sinal da cruz, dizendo: “São” (testa) “Cipriano” (peito) “seja” (ombro esquerdo) “comigo” (ombro direito).


– Embaralhe e corte em três montes, reunindo-os na sequência inversa do corte.


– Deite as cartas viradas para baixo, na sequência numérica esquematizada acima. A primeira carta a se deitar é aquela marcada com uma *, mas será a última a ser lida, pois traz o desfecho de toda a leitura. O procedimento é repetido mais duas vezes, de forma que, em cada posição, haverá três cartas, num total de vinte e sete cartas.


– Com a mão direita sobre a carta central, diga: “pelo poder bendito de São Cipriano, hoje santo e outrora feiticeiro, convertido pela sapiência de Jesus, rogo que estas cartas encantadas digam a verdade, para a glória do mesmo Santo e a satisfação da minha alma.”


– Algumas versões do livro trazem esta outra oração, denominada responso de São Cipriano: “ó meu Amantíssimo Senhor, Vós que sois o Deus do Universo, permiti que estas cartas me digam, o que quero saber, o Senhor seja comigo, me ajude e  me socorra. Maria Santíssima, minha mãe, socorrei-me por intercessão do vosso amado filho, Senhor meu, a quem com a minha vivíssima fé amo de todo o meu coração, corpo, alma e vida. Cartas, vós não me haveis de faltar e isto pelo sangue derramado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amem.”


– Leia, primeiramente, as três cartas das posições 1, 2 e 3, as quais representam o problema ou questão do consulente (1), seu passado (2) e o que o levou a essa situação (3).


– Siga lendo as cartas nas posições 4, 5 e 6, representando o momento atual (4), o caminho a ser seguido pelo consulente (5) e as ações que ele deve tomar (6).


– Finalmente, leia as cartas nas posições 7, 8 e *, as quais apontam o futuro próximo (7), o futuro mais distante (8) e o desfecho da questão, a sua solução ou um conselho relevante (*).

– 2º método:

– Embora não possa ser denominado “cartomancia cruzada”, este segundo método pode ser utilizado com proveito.


– Após embaralhar e cortar as cartas, elas serão deitadas em cinco linhas de oito cartas cada:


– Feita qualquer uma das duas orações acima mencionadas, interprete as linhas da seguinte maneira:

– 1ª linha: passado

– 2ª linha: presente

– 3ª linha: futuro próximo

– 4ª linha: futuro distante

– 5ª linha: conselho


– A interpretação é livre, podendo-se re-arrumar as cartas de uma mesma linha para que formem oráculos coerentes.

Obras consultadas:

DUMONT, Pierre, São Cipriano, o legítimo capa de aço, São Paulo, Madras, 2008.

FERES, Osvaldo R., O oráculo de São Cipriano, 1ª edição, publicação independente, 2019.

MOLINA, N.A., Antigo livro de São Cipriano, o gigante e verdadeiro capa preta, 9ª edição, Rio de Janeiro, Espiritualista, 2000.

S/A, São Cipriano: antigo e verdadeiro livro de sonhos, cartomancia e receitas, 6ª edição, Rio de Janeiro, 2011.

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