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Aos velhos e novos amigos

Aos velhos amigos gostaria de dar um recado. O peso das escolhas encolheu-me severamente. Tão diminuído estou que não consigo encará-los sabendo que tudo que fiz foi equivocar-me.


Aos novos amigos, digo: arrependam-se de me ter conhecido, pois sou terrível e carrego um germe que espero que não os contamine jamais. Corram, amigos. Fujam.

Penso que melhor seria logo cair morto. Livre de opções e de medos e da certeza de que sou apenas um homem mesquinho. Odeio homens mesquinhos. Sinceramente, os odeio.


O céu sem estrelas das noites do Rio são um prelúdio do que me aguarda. Sem brilho. Sem beleza. Sem encanto. Um apagar triste de algo que, em verdade, deveria ser belo.

Fui criado para ser belo. Eu, você e todos nós fomos criados para sermos graciosos e felizes. Porém, olho meus amigos e sei que não posso mais ser um companheiro para eles, pois não merecem esse monstro que se disfarça de mim. Eles mantiveram certa graça. Eu nunca soube preservar essas coisas.


Inimigos meus, festejem! Já estou caído e derrotado. Sangue de minha carne já mancha o chão pisado do mercado. Vocês todos tinham razão. Não sou bom. Sou desprezível.


Acham, entretanto, que eu os olharei com vergonha? Sei que meus adversários estão ainda mais encolhidos do que eu, mas que se fazem gigantes por engano e truques. Não são preservadores da boa coisa como meus companheiros. Nunca tiveram qualquer parte que fosse agradável.


Queime a lua nesta noite como sol do meio-dia. Pois a claridade deste absurdo ígneo faria o favor de revelar-me de uma vez. A exposição derradeira de um infeliz. Um cair de cortinas surpreendente, porém extremamente adequado.


Sou mau agouro, amigos. Sou uma mancha impossível de sumir. Sumam vocês, portanto, da minha vista e sejam felizes, amigos. Sejam felizes como eu poderia ter sido e como sou quando esqueço.


Minha memória é muito boa.


Ainda melhor do que ela, só meus amigos. Eu que os mando correr, espero que ignorem-me, pois sou mentiroso. Rezo para que me acolham, pois sou perdido. Desejo que me acalentem, pois sou gente.


Amigos, até bicho perdoa. Perdoem essa coisa selvagem que escreve. Ela não sou eu de verdade. Eu sou ela e muito mais. Amigos, eu sou também vocês.

Imagem de Małgorzata Tomczak por Pixabay


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