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Amarrado ou A Outra Ponta do Nó.

Para ajudar na experiência deste conto, sugiro que leia “O Nó” publicado aqui, no espelho de Circe.

Vitor cruzou com Marcia no corredor da faculdade, seus olhares se encontraram e para ele, não havia importância, seu maior interesse estava em Eduardo, um aluno de sua turma por quem estava apaixonado já fazia um ano. Haviam se encontrado algumas vezes, porém nada sério havia se firmado entre eles. Residia em bairro humilde do Rio de Janeiro. Sua mãe o havia criado com muito esforço e não conhecera seu pai.

Frequentava a igreja com sua mãe uma vez por semana, apenas para agradá-la, e no fundo considerava tudo o que era dito pelo pastor uma grande besteira. Foi na volta da igreja, quando passava por uma esquina que foi abordado por um homem vestido com trajes do século passado.

“Boa noite Senhor” Disse o homem.

“Boa noite” Respondeu Vitor e continuou andando.

Porém, o homem o seguiu e continuou falando. Isso deixou Vitor bem assustado.

“Permita-me apresentar. Meu nome é Gorsyn e gostaria de lhe ajudar.”

“Me ajudar? O que você poderia fazer por mim?”

“Posso lhe dar aquilo que você mais deseja, apenas chame por mim. Lembre-se, meu nome é Gorsyn e posso fazer nós, difíceis de serem desfeitos”

O homem simplesmente sumiu e isso deixou Vitor muito apavorado. Em casa contou para sua mãe que o orientou a orar, pois deveria ser o “inimigo”. Na mesa colocou o jantar onde havia apenas ovos e algumas folhas, disse que sua patroa não havia lhe pago o salário ainda. E com muita alegria eles comeram a humilde comida que havia no prato.

Naquela noite Vitor dormiu muito mal, sonhou que estava em pleno ato sexual com uma mulher muito familiar as suas lembranças e afinal, de onde a conhecia? Ao acordar, arrumou-se e foi para a faculdade, trabalhava no campus em troca de uma bolsa de estudos.

O Dia foi cansativo e sentia-se mal, pesado e enjoado. Foi até a lanchonete comprar um suco e viu a mulher que havia sonhado, um arrepio de medo percorreu todo seu corpo. Deveria ser coincidência, impossível ter sonhado com a mulher que estava à sua frente.

Sua concentração foi quebrada quando recebeu um beijo no pescoço e para sua surpresa, era Eduardo, que estava ali amoroso e se ofereceu para pagar seu lanche. “Oi Vitor tudo bem? Saudades de você”

“Tudo bem sim. Em que posso te ajudar?”

“Calma aí, parece que só te procuro quando quero algo” rebateu Eduardo, “Mas realmente preciso de um favor. O professor colocou um mês de falta para mim, tem como mudar no sistema da faculdade?”

“Se me pegarem fazendo isso serei demitido” Disse Vitor

Eduardo chegou mais perto como se fosse beijá-lo e disse no seu ouvido que faria tudo que ele pedisse e que seria só dele, caso ele conseguisse.

Tremendo de desejo, Vitor disse que daria um jeito e Eduardo se foi.

Naquele mesmo dia, Vitor entrou no sistema e trocou as faltas de Eduardo para apenas uma no mês. Se despediu de todos os funcionários e quando ia para ponto de ônibus viu que Eduardo estava no carro se entregando a muitos beijos com uma mulher, foi se aproximando bem devagar sem que nenhum dois o vissem e ouviu o que diziam.

“Edu, você muito malvado. Iludindo o gay da sua turma para conseguir benefícios? Você não tem remorsos não?”

“Claro que não e vou te dizer ele faz muitas coisas melhor que você..

“Você não presta. Mas não consigo te deixar”

Sentindo o ódio lhe consumir, Vitor correu com lagrimas em seus olhos e no caminho de casa, passou pelo cruzamento e lembrou do estranho que lhe abordou. Como era seu nome mesmo? Pensou até lembrar.

“Gorsyn você disse que me ajudaria e atenderia meus pedidos. Vamos apareça filho cão!”

A rua estava deserta, não havia carros ou pessoas e um forte vento se fez soprar, a luminária que estava sobre sua cabeça se apagou e cascos de cavalo foram ouvidos. Vitor sentia muito medo, queria correr, mas suas pernas não obedeciam, queria gritar, mas sua voz não saia e então um homem diferente daquele que tinha visto da última vez se aproximou. Este era albino com olhos muito azuis e vestia um terno preto com a gravata vermelha.

“Boa noite. Resolveu aceitar minha ajuda?”

“Tenho dois pedidos a fazer e em troca lhe dou o que você quiser”

“Qualquer coisa?” Perguntou o demônio.

“Sim. Qualquer coisa” disse o rapaz.

“Então me diga o que você quer e eu te direi o preço”

“Quero a destruição do Eduardo. Quero que ele sofra tudo o que sofri. Melhor, quero que ele sofra mais do que eu sofri e quero que minha mãe consiga descansar, pare de trabalhar tanto, tenha paz e tranquilidade. Uma vida de descanso onde não seja incomodada”

“Seu desejo será atendido. Em troca quero o seguinte e acho melhor anotar para que nada saia errado, faça exatamente o que eu pedir: você me trará aqui nessa esquina um casal de cabras pretas e me chamará por três vezes, eu aparecerei. Então, você cortará suas gargantas e espalhará seu sangue em forma de cruz. Depois você irá retirar seus corações e enterrará aqui em minha homenagem. Após este ritual você terá o que deseja”

“Onde vou arrumar um casal de cabras?” Perguntou o jovem.

“Isso não é um problema meu. Boa noite”

E o demônio sumiu.

Em casa Vitor pensava o que faria para atender o pedido daquela entidade e então teve uma ideia, não havia como dar errado.

Acordou no dia seguinte e era um sábado. Foi até o açougue próximo a sua casa e comprou um pouco de carne e dois corações de boi. Deixou tudo guardado e quando deu quinze para meia noite foi até a cozinha triturou a carne com um pouco de água no liquidificador formando um líquido pastoso avermelhado que lembrava muito o sangue. Colocou em uma pequena garrafa e se dirigiu até o cruzamento.

Meia noite em ponto e não havia ninguém na rua. Gritou por Gorsyn três vezes, então ouviu ao seu redor várias gargalhadas juntas com o som de cascos de cavalo e sentiu uma respiração quente na sua nunca. Sabia que não estava sozinho, embora ninguém fosse visto. Derramou o líquido formando uma cruz no chão. No cruzamento do desenho, abriu um buraco na terra e pôs os dois corações e repetiu seus pedidos afirmando que desejava que Eduardo sofresse e que sua mãe tivesse o merecido descanso por tanto tempo de trabalho. Assim que cobriu os corações com terra, apareceram alguns ratos, serpentes e baratas que ficaram sobre o local. Sentiu medo e talvez arrependimento, mas era tarde. Encerrou o sinistro ritual e foi para casa.

Dormiu muito bem e feliz, com certeza seu desejo seria alcançado. Não havia cumprido o que o demônio pediu, mas afinal sangue e coração eram iguais o que poderia haver de errado?

Acordou ainda estava escuro viu as horas e era três da madrugada. A beira da sua cama de pé um homem o olhava e sorria. O medo tomou conta de seu corpo, sabia que deveria estar sonhando. Por fim o homem apenas disse:

“Agradeço sua oferenda e saiba que seu desejo será concedido na mesma medida do seu pagamento. Os nós que eu faço, jamais podem ser desfeitos. Volte a dormir” A entidade desapareceu no ar e Vitor caiu em sono profundo.

Na segunda feira encontrou Eduardo na faculdade, porem o ignorou e seguiu para a aula. No caminho esbarrou com a mulher a qual havia sonhado e sentiu um desejo tomar conta de seu corpo, uma vontade de beijá-la e tê-la em seus braços.

O dia passou devagar e não conseguia parar de pensar nela, até que resolveu se aproximar e conhecê-la. Não entendia o que estava acontecendo, afinal nunca sentiu qualquer atração em mulheres, inclusive para amizades.

Perguntou a alguns amigos quem era e foi informado que a jovem se chamava Marcia e era de uma das famílias mais ricas do Rio de Janeiro.

Vitor esperou que ela estivesse sozinha na lanchonete e se aproximou.

“Boa noite, acho que nunca nos falamos. Me chamo Vitor. Você é a Marcia correto?” Disse o Jovem

Ela apenas respondeu que sim.

“Sou novo aqui no campus e estou com alguma dificuldade em achar uns livros na biblioteca, poderia me ajudar?” Mentiu Vitor.

Ela disse que ajudaria e foram então para a biblioteca. Uma vez dentro do corredor, Vitor não se conteve e colocou a mão nos seios de Marcia. Ela pareceu realmente assustada e ele também. O que era aquilo que estava acontecendo com ele?

Mas ela acabou cedendo e foram para a casa dela. Lá se entregaram aos seus desejos. Vitor que até então nunca sentiu qualquer desejo pelo sexo feminino, se entregava de forma assustadora aquele momento.

Os dias se passaram e Vitor não ia mais para casa quase, só ficava junto de Marcia. Foi demitido da faculdade já que não comparecia mais ao trabalho e sua mãe estava preocupada, pois o filho não estava aparecendo em casa.

Não percebia que estava emagrecendo e que não saia mais da casa de sua namorada. Quando seu celular tocou e um homem de voz desconhecida, pediu para falar com Vitor.

“Ele quem fala” disse o rapaz

“Aqui é do hospital Menino Jesus, sua mãe esta internada conosco faz alguns dias. Foi atropelada, porém somente agora ele lembrou seu numero. Poderia vir ate aqui imediatamente?”

“Sim irei em breve. Agora estou um pouco ocupado”

Marcia que ouviu tudo, perguntou o que havia acontecido e Vitor disse que sua mãe estava internada. Mas não iria até o hospital e deixaria sua namorada sozinha para que outros homens se aproveitassem.

Algum tempo que ela apresentava vários hematomas no corpo e não ia mais as aulas, Vitor assumiu um comportamento agressivo, a proibia de sair e ver suas amigas, não permitia alguns tipos de roupas ou perfumes e caso fosse desobedecido usava de agressão física. Seus pais não notavam e os empregados fingiam não ver.

Rasgou todas as roupas que ele considerava ousadas e que pudessem chamar atenção de outros homens e até seus perfumes com fragrâncias um pouco mais fortes ele jogou fora.

“Se algum dia você me trair eu te mato” Disse Vitor.

Quando dormia ele tinha pesadelos, via um cemitério e Marcia parada na porta. Acordava no meio da noite assustado e olhava para o lado para saber se Marcia estava lá e sentia um desejo sexual incontrolável, a ponto de obrigar sua namorada a satisfazê-lo contra sua vontade.

Em uma tarde que foi chamado pelos empregados dizendo que alguns policiais gostariam de falar com ele.

“Pois não, o que desejam? Sejam breves, estou ocupado” disse Vitor.

“Gostaríamos de saber sobre a sua relação com Eduardo Martins. Você o conhece, certo?” Disse o inspetor

“Acho que sim. Ele era aluno da faculdade. Posso sabe o motivo da pergunta?”

“Sim. Seu corpo foi encontrado hoje de madrugada em um esgoto. Parece que ele foi vítima de estupro e depois assassinado. Estamos colhendo informações e pelo que pude perceber ele não tem inimigos”

“Infelizmente não sei nada a respeito. Só nos víamos pelos corredores da faculdade em que trabalhei e estudei”

“Tudo bem. Se souber de algo, nos avise” finalizou o inspetor.

Enquanto voltava para o quarto de Marcia, lembrou-se do acordo que havia feito com o sombrio homem no cruzamento da sua casa e de que havia pedido pelo sofrimento de Eduardo e pelo descanso de sua mãe. Correu para o quarto e disse a Marcia que ia para o hospital Menino Jesus.

Tomou um taxi e lá chegando foi conduzido a um quarto onde sua mãe estava acamada. O médico veio conversar e explicou que devido aos ferimentos de sua mãe, um dos braços fora amputado e que ela não poderia mais trabalhar. Seria necessário muito descanso.

O mundo a sua volta girou e foi preciso se segurar para não cair. Abraçou sua mãe e foi para sua casa. No caminho passou pelo maldito cruzamento e gritou pelo demônio, porem nada aconteceu.

Resolveu ficar uns dias em sua antiga casa até que uma tarde ouviu batidas na porta. Eram dois policiais que vinham entregar uma intimação por agressão e violência a mulher.

Sem entender nada, acompanhou os dois policiais ate a delegacia e lá foi informado que Marcia Lavintovski havia apresentado uma denúncia por agressão e que ele deveria ficar longe dela.

Ao sair da delegacia, Vitor estava preenchido pelo ódio. Passou por um banco e retirou todas suas economias, compraria uma arma e resolveria aquilo. Afinal o porte de armas havia sido liberado no país e embora ele fosse pobre, gastaria todo dinheiro que havia guardado já que não precisaria mais dele.

Passou no hospital e se despediu de sua mãe, disse que a amava muito e pedia desculpas por não ter sido um bom filho.

Chegou na casa de Marcia eram vinte horas e o segurança era um amigo seu, permitiu que Vitor entrasse sem nenhum problema. Aquela hora os empregados já haviam ido embora. Então subiu até o primeiro andar e caminhou para os quartos dos pais da jovem que dormiam, efetuou dois disparos na cabeça de cada um e foi para o quarto de Marcia.

A jovem estava encostada chorando em um canto do quarto e implorava por sua vida. Transtornado, Vitor perdeu sua sanidade e não conseguia distinguir a realidade. Viu ao seu lado o homem de terno e começou a repetir o que ele dizia:

“Se você não pode ser minha, não será de homem nenhum. Nosso nó jamais poderá ser desfeito.”

Efetuando em seguida vários disparos na direção da moça.

Ao olhar a sua volta percebeu que o sombrio homem de terno segurava a sua mão e conduziu sua mão em direção a sua boca.

Então apertou o gatilho.

Quando os seguranças chegaram era tarde. Encontraram um verdadeiro show de horrores com sangue para todos os lados.

No hospital, sua mãe assistia o noticiário e não acreditava que seu filho poderia ter feito aquilo. Nota: Embora essa história seja uma ficção, isso ainda acontece em muitos lares. Se algum/a amigo/a seu/sua estiver sendo vítima de agressão no relacionamento, não tenha medo de perder a amizade. Aconselhe e ajude.”


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