Esses malditos barulhos estão me enlouquecendo. Mas uma coisa seria se fosse só a mim, agora encher os ouvidos da minha esposa com toda essa baderna de móveis se arrastando e louças balançando dentro de caixas… Bom, isso tem deixado a June louca.
Eu já estou farto desses vizinhos. Acho que nunca uma mudança foi tão barulhenta na vida. Todos os dias ela chora. Na maioria dos momentos ela chora, pra ser bem sincero.
Estou ficando seriamente perturbado e profundamente triste com isso. Passo o dia na cama com ela, a afago e digo que vai ficar tudo bem. Se pelo menos esses barulhos pudessem cessar; estamos vivendo um inferno já há umas duas semanas.
Às vezes ela não parece querer saber muito de mim, então sai do quarto e busca paz nos outros cômodos. Eu a dou seu tempo e a espero com um sorriso feliz. Nosso magnetismo é estrondoso. Mas os vizinhos estão passando dos limites. Preciso fazer algo sobre isso. Agora mesmo vou me levantar, e eu e June vamos bater na porta desses infelizes que não sabem respeitar a paz alheia.
Por que só agora estou me dando conta de que a casa parece tão vazia?
Quanto mais grito por minha esposa, menos ela parece me ouvir.
Ela está empacotando louças, arrastando móveis e os cobrindo com um tipo de proteção. Está saindo pela porta da frente onde há um caminhão estacionado.
Tento processar tudo isso e à medida que o amor da minha vida vai se distanciando do nosso lar eu procuro forças pra ir atrás, mas não consigo. Ela se vira, mas não parece ouvir meus gritos desesperados.
Minha cabeça dói e eu caio. Eu deveria saber, não ter consertado aquele degrau na escada me traria consequências.
Revisão por Gabriela Prado
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