O Transe é o animal que precisa ser dançado, é a serpente que vagueia da terra, e ascende ao mastro em chamas.
Dançar a morte, ouvir os sons das correntes, bailar conforme a fumaça o fumo e o incenso, deleitar-se na neblina. Fale, brinque com ela! Trançando, dobrando, enovelando! Eles nos observam por além do véu, eles esperam. Dance! Liberte o manto, deixe que desçam, deixe que te ensinem, mostre a eles. Assuma o céu com a tua áspera peliça, mastigue o sacrifício, ria. Gargalhe! Trema o corpo, ressoe os pés e cascos para o diabo! Cuspa no chão o sangue de suas bochechas, arranhe a voz contida, sue as coxas e virilha e de tua gordura forneça a todos a panaceia dos enfermos, dos desesperados.
Respire. A mente vagueia assim como seu corpo, duas direções inóspitas, para além dali reside o agora, para o além daqui o ponto de onde partiu. Os sons, os cheiros, a ânsia… Tudo aflige a tua pele. O vento que passa por ti é a comunhão dos sussurros ditos ao pé do ouvido. E eles seguem a torrente, e em frenesi eles açoitam a terra! E eles encavalam-se em bandos, e eles choram como se nunca quisessem ter nascido: mas eles nascem, andam tortos, por natureza sem perna, e agridem o ventre para dar luz ao próprio destino.
Sons bestiais são sentidos vindos do manto dos que se foram, eriçando os pelos que lhe restam, tocando a fronte e além dela. E os envolta de nós se desorientam, de sua arritmia descompassam o passo sem graça, e por força nossa, se colocam no caminho e gritam nossos nomes. E libações são aceitas e o fumo jogado na fogueira. A caçada se inicia. Encho os pulmões com o ar deslocado, enfim eu respiro.
E o mastro se ergue novamente, e vislumbra-se o horizonte acima dos mundos e abaixo do nosso; como fogo fátuo evapora-se. Como álcool em fim de festa; ressoa o silencio. Tocado agora por uma gota que inunda, devasta o deserto de dentro. Acende a oferenda, finda o sabbath.
Créditos da imagem: Claudia Andujar
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