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Foto do escritorNicholaj Frisvold

Um flashback caótico

Os anos 80 e 90 foram interessantes para magia e ocultismo. O que era disponível e estabelecido para os buscadores era a Maçonaria, a O.T.O e a AMORC. Nada disso tinha muito apelo para mim, embora eu tenha tentado fazer funcionar com a Thelema por um ano ou mais, e depois encontrado o ouro mágico na Maçonaria Haitiana. Na década de 80 – quando comecei a levar a sério minha curiosidade e busca mágica, – o que ficava à parte dessas ordens cerimoniais e era mais adequado para um enfant terrible, um transgressor como eu, era a Igreja de Satã, a IOT e a TOPY, à qual me juntei. Na década de 80 foi também quando comecei a escrever, fortemente influenciado por Henry Miller, Jack Kerouac e William Burroughs, e me definia como um ‘novo-beatnik’, o que certamente contribuiu.


Olhando para esta década a partir deste lugar na história, fico intrigado ao ver como esses movimentos transgressores nos anos 80 mudaram de cor e se tornaram mais uniformemente sistematizados e sujeitos a alguns erros de jargão que eram imperdoáveis há ​​30 anos atrás. É também impressionante ver que meu interesse e amor pelo trabalho e arte de A.O.Spare nunca deixaram de me influenciar e me mover. A IOT e TOPY foram ambos definidos como parte do que é magia do caos, mas naquela época havia um método na loucura. Havia uma grande consciência em como a magia do caos havia surgido do movimento punk e se tornou uma magia pós-moderna focada em causar efeito mágico em nossa própria esfera.


A importância do movimento punk não pode ser subestimada. O movimento punk foi uma reação ao conservadorismo político e à conformidade. Este movimento deu voz, palavra e energia às vozes reprimidas, à terra e às pessoas sedentas e famintas à procura de marcar o mundo com essa energia de intensa existência. Paradigmas nunca estavam ali para serem quebrados, mas para serem feitos, conscientes das ideias de Thomas Kuhn de que um paradigma jamais poderia ser quebrado, só deixado. Que qualquer construção etérea, espiritual ou mental fazia marcas no espaço e no tempo, marcas que poderiam ser colhidas em benefício do praticante.


Tratava-se de reconhecer temas dentro do mesmo e, a partir disso, edificar construções temporárias que poderiam realizar o trabalho. Mas isso implicava estudo e dedicação, e não uma postura eclética cega. Na TOPY tínhamos um ritual de admissão, um ritual que tinha que ser feito no dia 23 de cada mês, durante 23 meses, e este ritual se transformaria e mudaria ao longo destes meses de acordo com o efeito e compreensão do processo mágico. Era uma busca pela quintessência mágica; o praticante era um tecno-xamã, um psiconauta que explorava os mundos dentro, tanto quanto os mundos de fora. Lembro-me de caras como Ray Sherwin, Dave Lee e Phil Hine: que criatividade em magia e que clareza e atitude ao mundo e à realidade! Não era a atitude de “ipsissimus topo do mundo” e dos “altos iniciados”.


Havia uma agudeza nos participantes ativos no mundo que eles mesmos estavam construindo, enfrentando essa fera chamada vida com a ferocidade de lobos e loucos. Foi um bom momento e, olhando para trás, sinto-me feliz por ter sido sujeito a tal zeitgeist oculto em meu despertar mágico. Mesmo que meu caminho tenha sido passar pelo tantra para abraçar as tradições europeias de feitiçaria e a espiritualidade africana, acredito que minha percepção caleidoscópica ainda seja a de gratidão a esse ocultismo punk, que ele tenha sido fundamental para moldar minha abertura ao oculto em geral. Essa abertura que foi gerada no Norte da Europa nos anos 80 e 90 foi verdadeiramente algo sublime e vendo hoje como a comunidade oculta está ficando cada vez mais segmentada, metódica e conformada, dividindo-se em grupos mediados por certos e errados, onde algum filho da puta portador da verdade é quem lida com as cartas, sinto que isto não é apenas triste, mas irritante.


Mas quem sabe, quando a magia se tornar obsoleta e irritante, talvez uma nova onda de libertação venha, e então a criatividade e a alegria podem novamente dançar com a paixão e interesse em um mundo que não é de binários, mas de possibilidades perpétuas, onde mais uma vez podemos nos transformar em Tao e tecno-xamãs nesta grande taberna mágica que tem espaço para todos, não importa o quão certo ou errado possam pensar que são…


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