(Texto adaptado do poema “Receita” de Marina Félix)
Um dia eu peguei teu três vezes três e teus sermões.
E eu coloquei nos meus caldeirões.
Três doses de tirania, uma pitada de submissão.
E em fogo alto do meu temperamento amargo.
Eu cozinhei, cada maltrato.
Separei a dedo todas as vezes que você disse que eu era o erro dentro do sagrado.
Misturei junto das vezes que transformei o banho em mar, de tão salgado.
Decantei todo sentimento de ser julgado.
Toda a culpa que eu coloquei em mim, por permitir ser por tanto tempo subordinado.
Peguei as sobras do sangue no cálice e te fiz um drink;
Eu separei todas as sedas que eu tinha.
Elas estavam dobradas ao lado da Grande Rainha.
Eu me perfumei feito o Diabo, a desobrigação de não pertencer a nenhuma história que não fosse a minha.
E parti,
Mas não sem antes chamar por Phosforos.
Eu botei fogo em templos e em todo remorso.
Das vezes que ninguém ficou do meu lado,
Porque eu nunca possui o título, nem o dízimo, mais alto.
E eu não sou nenhum profeta, mas eu já sabia.
Que te arrependerias de me perder antes do crepúsculo do dia.
Você ficou com tua idolatria.
E eu estava sozinho, e sorridente, quem diria.
Eu nunca mais precisei me preocupar com as feridas que o ódio me causaria.
Afinal, dali em diante da minha vida somente eu, cuidaria.
Deixei oxigenando por anos o recomeço ali engarrafado.
Destilando todo sofrimento do passado.
Diariamente eu reafirmava o que minha realeza havia me aconselhado.
“Seja eterno, selvagem e indomado”.
Provei o sabor daquele rubro licor,
Fino e seco, feito um lapidado rubi era a sua cor.
Frutado com recomeço e levemente adoçado com fulgor.
E pra você que ainda quer saber como tenho estado.
Na hora das Bruxas, no caminho torto, vem comigo bater um papo que eu te conto por onde tenho andado.
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