Agora, um pouco de pensamento crítico e dados:
Longe de mim apelar para o bom senso das pessoas. Estou velha demais e cansada demais para acreditar que as pessoas querem mesmo mudar alguma coisa. Afinal, “estava assim quando eu cheguei” e se o sistema é bruto estou validado a usá-lo pra passar por cima de você. Acontece que o pensamento tipo Gerson, (vide propaganda) de tirar vantagem sempre e de que “farinha pouca meu pirão primeiro”, afeta a todo mundo. Um bom exemplo disso são as vacinas para covid-19 vendidas para empresas quando a população carente e grupos de risco não tem o suficiente para imunização de massa. É visceral compreender que vacinação numa pandemia não é política individual, e não adianta vacinar apenas quem pode pagar. Mas isso é assunto amargo pra outro dia.
Onde eu quero chegar com isso? Na distribuição de PDFs piratas de escritores brasileiros. Não é novidade pra ninguém que livro sai mais barato em países da Europa e nos EUA. As tiragens em nosso país são pequenas porque temos poucos leitores de fato. Isso por si só prejudica o preço final que é o que o leitor vai ter que pagar. Um editor, aquele cara que organiza as edições e planeja a logística de distribuição fica em média com 25% do preço de capa (aquele que vc paga na livraria) para cobrir custos de funcionamento da editora, tradução, revisão, paginação, diagramação e o lucro.
Vão te contar que as contas são mais ou menos assim: papel, sim papel é caro, preço da tonelada passou de R$600,00 para R$ 1.100,00, mas ainda não significa nem 5% do preço do livro. O editor 25%, o autor (que é quem mais sofre e já explico o porquê) fica com 10% do preço de capa, a gráfica 8%, distribuidor 15% e as livrarias com 40%.
A pegadinha é conhecida apenas por quem vive essa realidade. No Brasil o autor é literalmente vilipendiado, ele não recebe adiantamento, é prática que ele receba seu pagamento em livros e tenha que se responsabilizar pela venda das unidades para poder receber em dinheiro. Que afinal de contas é o que paga a comida e os boletos. As editoras vêm logo atrás nas perdas de estoque ocasionadas pela “prática de mercado” que é consignação exigida pelas livrarias, mas 60% do preço de capa. Isso mesmo, querido leitor, 60%. A consignação é uma prática de mercado onde o editor envia os livros para exposição, a fim de promover seu material, e quando vendidos eles são pagos trimestralmente. Você consegue ficar 3 meses sem pagar seus credores? Então, nem a editora. Além do mais, produtos danificados nas exposições por manuseio ou intempéries como sol ou chuva são da responsabilidade da editora, mesmo que e a não tenha danificado o livro. As livrarias já fazem o favor de conceder espaço pago pro livro ser visto.
Bom, postos os dados mais importantes para fins deste texto, quero mesmo é falar da prática ilegal, friso ilegal, de distribuição de PDFs das obras. Esse papo mole que o autor não quer espelhar conhecimento é desculpa pra malandro dormir de noite. E o mal do malandro é achar que todo mundo é mané. Não tenho pena.
O autor é nosso personagem principal, sem ele não existem livros, histórias, nem as viagens de expansão de consciência que galgamos com a leitura. Fodam se as editoras e as livrarias você me diz. E ok então. Fodam se as livrarias e as editoras. Mas o que acontece com o autor que dedicou 10 anos de estudo, investimento em cursos, faculdade, especialização, palestras, viagens para simpósios, organizou eventos e fez das tripas coração para lançar aquele conhecimento? Eu te respondo, a gente engole e faz chacota ao espalhar o livro PDF que geralmente nem é lido pelo ávido colecionador de PDFs.
Na magia eu ainda fico muito feliz, porque esse é o tipo de gente que não vai muito longe mesmo. Então o PDF nas mãos do imbecil é como usar seda chinesa pra limpar a bunda. Tudo que tocar vai manchar. Aqui então, querido leitor, confesso meu prazer sádico em perceber que a frase hermética “Os lábios da Sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento” ganha um tom de maldição aos que perpetuam a conduta do “Gerson” em tirar vantagem de tudo.
É também hermética a percepção de que ninguém pode colher o que não plantou, e que você não atrai o que quer, mas atrai o que é. Está respondido então porque essas pessoas não têm ou não querem honrar o escritor e sua dedicação com a compra de sua obra, mas roubar, distribuir e destruir. Porque é de merda que são feitas suas almas.
Não por coincidência os que estão distribuindo o livro são sempre amigos do concorrente.
Finalizo com uma frase batida, mas que aqui ganha ares de promessa cálida em meu coração: Melhor reinar no inferno do que servir no céu.
Encontro vocês lá.
Um beijo da tia.
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