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Foto do escritorEduardo Regis

O Grande Sabá

Nas entranhas da floresta respirava calmamente uma bruxa. Sentada em um tronco e fumando um cachimbo com tragadas irregulares e fortes, ela matutava. A fumaça subia espiralando, formando desenhos que ninguém jamais veria. Nem ela, pois não prestava atenção. Talvez estivesse em um tipo de transe.


Em um quarto branco estéril e sem-graça, outra bruxa estava deitada. Na sua cama de molas Holandesas e em meio aos lençóis Egípcios, ela mesma, Brasileira, girava e girava em um sono profundo.


Já em uma planície que se estendia entre os mundos, havia também uma bruxa. Ali ela estava de pé, encarando o céu que mudava de cor. Ela estava de frente a uma grande árvore. Sua copa era do tamanho de um país. Frutos luminosos brotavam em seus galhos. Quando estes se soltavam, flutuavam até se dissolverem e se espalharem pelos ares. Como isso acontecia a todo o momento, a bruxa parecia encarar uma silenciosa queima de fogos de artifício.


Nadando em um mar proteico e aquecido, outra bruxa, ainda sonhando em nascer recebia chamados ancestrais. Seu pequenino coração batia no ritmo de tambores etéreos.


O fogo consumia a carne de uma bruxa e o calor era tamanho que seus tímpanos estourados já nada mais ouviam. A dor lançou seu espírito para longe antes mesmo de seus órgãos cozinharem e agora ela voava por camadas sutis do mundo enquanto seguia trilhas invisíveis até um lugar conhecido.


E há um lugar secreto com cheiro de noite profunda, repleto de pássaros vigilantes, no qual serpentes sussurram na língua dos mortos. Lá, lagos cristalinos refletem as constelações e a lua, de tão próxima, faz a escuridão brilhar. Principalmente, é o lugar no qual se ouvem risadas genuínas, no qual o vinho rega a terra e onde os corpos nus sentem o vento, a chuva e os abraços sem restrições.


São Pedro as aguarda na encruzilhada com duas chaves nas mãos e dois chifres na testa.  Todas que o encontram, beijam-no carinhosamente e tomam o que querem do santo. As portas estão abertas, pois quem ousaria fechar as portas para as bruxas? O caminho está livre.


Lá, todas elas se encontram nesse exato momento, que se estende desde quando a primeira estrela brilhou até a exata hora na qual o último sol explode. Neste tempo, que também é espaço, o sangue engrossa, pois rios dele se juntam num só curso. É dentro desta dimensão que todas crescem, voam e se redescobrem.


No centro de tudo, como um eixo, a hierogamia cósmica da união de mentes e de saberes fervilha e se divide em dinamismo, poder e magia! E quem sabe mais o que poderá nascer desse mistério?


Eu apenas observo e deixo que nasça um sorriso em minha face quando eu as vejo correndo pelo céu ou quando as escuto cochichando nas sombras. Essa é a hora delas. Esse é o tempo das bruxas. Eu estou apenas aqui contando uma história e espero que eu possa dançar com elas quando voltarem, pois sei que de lá trarão maravilhas e seus beijos serão então mais hipnóticos do que as nebulosas que nadam no oceano do espaço.


* Imagem de 2234701 por Pixabay

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