A pior hora da minha vida é quando não me resta alternativa a não ser me levantar. Só de ouvir chamar meu nome, a pressa já consome todo o vazio que consegui acumular. Se todo mundo tem seus vícios, seus buracos, seus ofícios, o meu – pelo menos por enquanto – é o de esvaziar.
E todo dia é assim, bate tecla, cria regra, faz comida, paga a entrega e esse desejo não me larga. Vontade de sentar em qualquer canto, fechar os olhos e ir de encontro àquela sensação de casa. O vazio é viciante enquanto o faço de espumante, absorvendo seu estupor. O vazio é paliativo enquanto bálsamo dos meus crivos e emplastro da minha dor.
É que se estou desatenta me faz falta sua presença porque ainda não sei unir; os movimentos do meu dia a sua imóvel utopia de simplesmente existir. Se estou fora quero estar dentro, esquecer nomes e pavimentos e só me deixar correr; mas quando entro é que me lembro que esse chão que estou correndo é o que eu pedi pra ter.
Vou seguindo dividida, viciada, sem medida, até que possa assimilar; que o vazio que dá sentido cria formas escondido que procuram me falar: não se apegue as paredes, elas são pra dispor redes que é pra gente conviver. Pois é ali que a gente cria, em uma sala bem vazia, mas com limites pra conter.
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