Magia se faz é de pés descalços que é pra sentir o chão, a terra, o seu corpo em conexão com isso tudo e pra fazer a cabeça de para-raios pro que vem do céu e de espalhadora pro que vem do inferno. Pés no chão pra pisar em caco de vidro, brasa quente e para quebrar osso na dança extática da iniciação.
Ah, mas a magia que se faz de pés descalços, essa se faz no templo da natureza, no qual a poeira levanta, impregna a pele e se mistura com o suor. A terra que bebe o sangue e o choro dos que sustenta. Treme o chão no ritmo dos pés descalços que acordam os santos, acordam os deuses e acordam até mesmo os que já morreram.
Foi dançando com os pés descalços que eu pisei no sangue que escorria do golpe que eu levei do invisível. Hoje carrego as marcas em meu corpo e, por isso, onde ando eles sabem quem eu sou. Foi de pés descalços que eu desci a escadaria até o inferno e quando pisei no chão flamejante de enxofre e pedras, nada senti, pois meus pés são pés calejados de tanto dançar.
No inferno, percebi que meus pés descalços eram cascos. Na terra, percebi que eram pedras. Na floresta, que eram raízes. No céu, vi que eram como nuvens carregadas de chuva. No rio, como corrente forte de cabeça d’água.
Magia que eu sei fazer é assim. Pé com pé, cabeça com cabeça e mão com mão num giro ígneo que vai se espalhando e tomando conta de tudo. Magia de pés descalços não precisa de vela, não precisa de bastão e nem de mais nada. Precisa é de saber o que é ser mago e de saber ouvir o que onde você pisa está dizendo.
Na floresta me sussurram segredos do arvoredo, no rio, sibilos das ondinas, na terra eu ouvi os cogumelos conversando e no céu, ouvi as trovoadas dos anjos. Lá no inferno, ouvi a mim mesmo e não gostei do que me disse. Porém, como foi bom me ouvir.
Você já experimentou pisar no local da sua magia? Já experimentou agarrar com força suas árvores? Beber de sua água?
Eu queria escrever mais, mas meus pés estão bem firmes sentindo a madeira debaixo deles e parece que assim como vibram os átomos lenhosos desse chão, vibram também os átomos orgânicos do meu eu. Os pés me chamam para fazer mais magia.
*Imagem por free-photos no Pixabay.
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