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Escatologia: também temos

Quem nunca? Quem nunca veio suando pela rua? Corpo frio. Passos apressados, porém calculados. O ventre espasmando que nem gente possuída pelo capeta. Rezando pra de alguma maneira conseguir alterar o espaço-tempo e fazer-se aparecer já sentado na privada com um banho quente já no gatilho e papel neve pro conforto pós-crise. Nessas horas o elevador demora. O vizinho quer contar que o filho passou no vestibular. A chave prende na porta. A gente fica com bunda de schrödinger: só vamos saber se tá limpa ou borrada quando abaixarmos as calças.Bate estranho tapioca. 

Doce de ameixa. Pipoca. Hambúrguer. Sorvete. Lasanha. Pastel. Chiclete. Até picanha que Deus fez pra que o ser humano conhecesse ao menos um prazer aqui nesse planeta. Nossa, esse parágrafo me lembrou aquela música da Marisa Monte que ela deve ter composto atacada de piriri.

“É natural e saudável e prova de que os movimentos intestinais estão apropriadamente corretos e funcionais na maré peristáltica justa do funcionamento esperado do corpo que encontra ação final no ânus que se abre generoso a liberar os produtos finais da jornada importante da comida que nutre a pessoa e que vai da boca à natureza. Mas faz um estrago danado”. Palavras do Presidente da Associação Nacional das Vítimas de Diarréia.

Piores são os danos colaterais. Um disparo não intencional de fluxo anal no chão do corredor do prédio pode, por exemplo, derrubar o vizinho. São braços e pernas quebradas aos montes por conta da diarréia alheia destilada pelo mundo. É triste, sujo e pode ser até fatal. Não conheço política pública tratando disso. Acho uma temeridade. Uma campanha de incentivo às fraldas geriátricas poderia salvar muitas vidas. Será que ninguém nunca pensou nisso?

A escatologia trata do fim do humano. É coisa de teologia. Quando falamos de bosta, falamos que é escatologia. Cadê a bíblia da bosta então? Se houvesse, apocalipse seria chamado de “diarréia”. É o fim dos tempos mesmo quando não conseguimos impedir o Moisés nosso do intestino de abrir o “Mar Marrom”. Não tem anjo com espada flamejante que salve. Anjo não carrega rolha. Nunca soube de um, pelo menos.

Mandinga pra impedir diarréia, conhecem? Eu não. Sei daquela maldosa pra impedir cão de cagar. É perverso. Na hora que o bicho estiver abaixado, olhe pra ele e faça uma “tranca” com os dedos. Na hora ele perde a vontade e sai correndo. Pra que serve? Não sei. Por mim não tem mal os cachorros cagarem. Gosto de ver eles fazendo cocô durinho. É certeza de que tão comendo bem.

No fim, acho que esse assunto é mesmo coisa de escatologia. Você deve ter morrido, ressuscitado e agora está sendo chamado pra prestar contas. Antes, uma lidinha nesse texto pra te dar um gostinho do que te espera caso você tenha sido um pecador. Ninguém te contou ainda, mas eu conto: o inferno é uma diarréia que não passa numa fila de banheiro de rodoviária.

Faça suas preces.

Acho mesmo que essa vida aqui nossa de carne e diarréias é uma enorme dor de barriga gigante. De vez em quando a gente consegue um alívio, mas logo vem outro episódio. O que fazer? Cada um dá seu jeito. Uns saem por aí sujando tudo. Outros passam a vida se limpando. Difícil saber quem tá certo. Fácil saber quem fede mais.

Enquanto não inventam um remédio pra nossa escatologia existencial, vamos levando assim. Você não pisa no meu, eu não piso no seu. Cada um que suje seus próprios sapatos. Enquanto isso, tapioca, doce de ameixa, pipoca, hambúrguer, sorvete, lasanha, pastel, chiclete e picanha (essa pra ser feliz).


Beijos, Marisa.


Imagem: Pixabay

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